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Nos estudos literários, o conceito de legibilidade circunscreve dois campos fundamentais do questionamento teórico: o que se desenvolve na determinação das condições que o leitor deve possuir para o exercício de uma hermenêutica de máxima eficácia; e o que procura caracterizar o texto legível como produto de consumo, dado como «acabado» quanto às possibilidades do seu sentido. Assim, no primeiro caso legibilidade reporta-se ao para antitético legível/ilegível, e no segundo ao par legível/escrevível. Se, nesta segunda acepção, o conceito de legibilidade aponta para uma limitação ou mesmo para uma desvalorização dos textos que são entendidos como pertencendo à categoria, que assim é designada por Barthes (S/Z, 1970), dado que a participação do leitor não é por eles solicitada, na primeira acepção o mesmo conceito tem um forte sentido positivo.

Podemos dizer que legibilidade, opondo-se a ilegibilidade, caracteriza o próprio fundamento da tradição hermenêutica que procura encontrar (e crê ser possível fazê-lo, segundo as perspectivas a que alguns críticos chamam “fundamentalistas”) o sentido unívoco (ou pelo menos o mais “poderoso”) do texto. Embora nem todas as modernas perspectivas teóricas convoquem directamente o conceito de legibilidade, podemos dizer que ele está presente num grande número delas de modo mais ou menos explícito.

Se as condições de legibilidade são, como defende Angenot (1979), o conhecimento do código linguístico, a decifração do código artístico (ou sistema de modelização secundária) que o texto instaura, bem como o máximo de informação sobre as configurações ideológicas, pragmáticas e hermenêuticas, parece-nos justo reconhecer que o conceito aqui descrito se pode usar para designar o conjunto algumas preocupações da estética da recepção (Jauss), ou da teoria da leitura (Iser, Fish).

Além disso, mesmo em teorias que colocam exclusivamente as obras ou os textos no centro das suas atenções, o conceito de legibilidade encontra-se implicado nelas por vezes de modo evidente. Está presente no estruturalismo, por exemplo, quando alguns dos seus teóricos falam de competência (domínio dos códigos) literária, ou na crítica psicanalítica, pelo modo como ela enfatiza a dimensão da interpretação.

{bibliografia}

Roland Barthes: S/Z (1970).