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Derivado do termo inglês “dandy”, trata-se de um fenómeno cujos contornos sócio-políticos se começam a delinear na viragem do séc. XVIII para o séc. XIX. Com efeito, é no período da Regência inglesa (1800-1830), que a afectação no trajo masculino se torna sinónimo de uma postura ideológica pró-aristocrática e da concomitante rejeição dos códigos de conduta e dos valores burgueses. Enquanto que estes enfatizam a igualdade, a responsabilidade e a perseverança, o dandy opõe-lhes um sentimento de superioridade elitista, cultivando a irresponsabilidade no decurso de um dia-a-dia votado ao ócio.

Brummel é a primeira figura a encarnar uma tal postura, nos finais do séc. XVIII. A importância que dá ao vestuário como forma emblemática de realçar a diferença é apenas comparável ao papel desempenhado pela agudeza de espírito (Wit) na sua linguagem.

A instabilidade entretanto trazida pela Regência favorece a expansão deste fenómeno e o aparecimento de outras figuras carismáticas como Lord Byron, Edward Bulwer e Disraeli. Favorece também um intercâmbio de influências com a França, o país mais permeável, nessa época, à voga da “anglomania” e do dandismo. As réplicas francesas sucedem-se, num consciente e deliberado esforço de imitação, exemplarmente conseguida nalguns casos, de entre os quais se destacam Alfred D’Orsay e Barbey D’Aurevilly. Após a Regência, o dandismo como força social perde o seu peso,  e resigna-se a ser o alvo dos ataques ferozes por parte dos “gentlemen” da época vitoriana que, através de Thomas Carlyle em Sartor Resartus (1833), dele traçam um retrato profundamente irónico: “A Dandy is a clothes-wearing Man, a Man whose trade, office and existence consists in the wearing of clothes”.

A partir de então e a fim de sobreviver, o dandismo necessita de ganhar novos contornos. E cabe a um dandy francês, na década de 1860, esse papel de revitalização, orientada no sentido da aproximação à arte e da conquista de uma dimensão eminentemente intelectual. Charles Baudelaire é a figura responsável por esta nova configuração do dandismo que, daí em diante, se apoia e se reforça na doutrina da Arte pela Arte e no Esteticismo.

Para Baudelaire, tal como para os Estetas, a vida e a arte constituem um todo no qual não cabe a vulgaridade, por eles
encarada como o maior crime. Em contrapartida, o mal e o pecado encontram o seu espaço nesse todo, que assim se configura à margem da moral oitocentista.

E é por aí que o dandismo abre caminho às posturas decadentistas do “fin-de-siècle”, paradigmaticamente representadas por J. K. Huysmans, em França, e por Oscar Wilde, em Inglaterra. Com estas figuras, a importância da moda masculina integra-se numa atmosfera de sofisticação aristocrática que faz reviver o estilo da Regência. Acrescentam-lhe, porém, novos matizes, em consonância com o culto do artificialismo e do exotismo, tão ao gosto dos Decadentes desse fim de século.

bibliografia

Ellen Moers: The Dandy: Brummel to Beerbohm (1960); Emilien Carassus: Le Mythe du dandy (1971); Ernest Raynaud: Baudelaire et la religion du dandysme (1918); James Eli Adams: Dandies and Desert Saints: Styles of Victorian Masculinity (1995); John C. Prevost: Je Dandysme en France (1957); Malcolm Bradbury e David Palmer (eds.): Decadence and the 1890’s (1979).