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Narração de sucessos fingidos, inventados para instruir ou divertir; conto imaginário ou mentiroso. “O bom frade contou muito fábula, como todos os colectores das causa primordiais de uma nação que se vão perder sempre em maravilhas .” (A. Garrett).

Pequena composição de forma poética ou prosaica em quase narra um facto alegórico, cuja verdade moral se esconde sob o véu da ficção e na qual de fazem intervir as pessoas, os animais irracionais personificados e até coisas inanimadas; apólogos: as fábulas de Esopo, Fedro e La Fontaine.

A história dos deuses e outras personagens do paganismo, do politeísmo ou da mitologia: “os deuses da fábula”.

O conjunto de ficções ou peripécias que entram no poema épico, no romance ou no drama, com o fim de os ampliar e ornar, de modo que a acção épica ou dramática não se apresentem como aconteceram realmente, mas como poderiam ou deveriam acontecido.

Narrativa de intenção moralizante, frequentemente confundida com as formas do apólogo, da alegoria e da parábola, mas das quais diverge por natureza.

Segundo a retórica clássica, a fábula é uma composição em verso, que registra uma cena vivida por animais, e de intenção moralizadora, através do riso, da sátira ou do absurdo. O apólogo é uma composição em prosa que narra uma situação exemplar, vivida por seres inanimados, objectos, com intenção moralizadora, embora se cubra de fantasia; e assume sempre um tom sério, severo, sem humor, tendendo ao dramático. A alegoria é uma composição em verso ou em prosa, que narra uma situação vivida por seres humanos ou míticos, e cujo verdadeiro sentido está transladado do objecto evocado para o objecto revelado, daí ter sempre dois sentidos globais e perfeitos: um literal, outro intencional-alegórico (a “Caverna das Ideias” de Platão; A Divina Comédia de Dante; o Romance da Rosa, medieval …) E a parábola é uma composição em prosa, que narra uma situação vivida por seres humanos e animais ou seres divinos, e de natureza edificante. Embora aparentemente se confunda com a alegoria, a parábola difere desta por sua intencionalidade religiosa: foi a forma narrativa preferida pelos povos antigos (Índia, China …) para difundirem crenças reliogiosas e, inclusive, é das grandes presenças na bíblia e no Alcorão. como género literário, a fábula procede da Índia (por volta do séc. VIII a.C.), dali passa à Pérsia, China e Japão; chegando à Grécia e a Roma e daí aos nossos tempos. Esse percurso abrange quatro idades históricas: a Antiga ou Primitiva (Índia e Grécia), a Média (Roma e Ocidente medieval e renascentista), a Moderna (do séc. XVII ao XIX) e a Contemporânea (séc. XX).

A Idade Primitiva da fábula é representada pelas fábulas orientais, pela sabedoria do grande fabulador Pilpay e pela famosa colecção Calila e Dimna (fábulas filosófico-morais cujas principais personagens são dois chacais). A Idade Primitiva abrange o período grego, com o escravo frígio, Esopo, que fez da fábula uma útil arma de persuasão ao bem agir ou arma de crítica aos vícios dos costumes. Aristóteles, em sua Retórica, refere-se a Esopo (séc. VII-VI a.C.) como “pai da fábula ocidental”, embora muito antes dele, Hesíodo, Arquíloco e Herodo já tivessem se referido aos motivos fabulares do “rouxinol e o gavião”, “ a águia e a raposa” e “o cavalo e o porco”…

A segunda Idade, – a Média (séc. I a.C. ao séc. XIV d. C.) corresponde ao período de romanização da Europa, queda do Império Romano e consolidação do Cristianismo, como base da civilização ocidental que então surgia. O grande fabulista dessa Idade é o escravo Fedro (15 a.C/50 d.C.) que aprimorou a forma da fábula esópica e consolidou-a como Tradição, cuja influência atravessa toda a Idade Média, com dezenas de importantes compiladores: San Cirilo, Vincent de Beauvais, Roquefort. Arciipreste de Hita, Guillaume hauden, Guillaume Gueroult, Faërne, Pantaleo candidus e outros.

A terceira Idade, – a Moderna, foi a idade de ouro da fábula, elevada que foi à alta categoria poética por La Fontaine (1621-1695) e difundida por toda a Europa por nomes como: Lamotte (França), Samaniego e Iriarte (Espanha), John Gay (Inglaterra), Lessing (Alemanha), Katz (Holanda), Bogdanowstch e Kriloff (Rússia) e Manuel Mendes da Vidigueira (Portugal), – conceituado humanista do séc. XVII, que publicou várias edições e reedições das Fábulas de Esopo traduzindo-as directamente do grego e inventando outros. Todos eles seguem a temática tradicional, esópica, mas aperfeiçoam a forma, nacionalizam os temas e imprimem ao género um ludismo crítico que seduziu (e seduz) o grande público.

A quarta Idade, – a Contemporânea, vê, por um lado, o crescente desinteresse pelo género da fábula esópica, no âmbito da literatura adulta e, por outro, um crescente interesse pelo fabulário tradicional, no âmbito da literatura para crianças. Principalmente a partir do anos 60/70 (quando se dá o boom da Literatura Infantil) até os nossos dias (anos 90), as antigas fábulas têm sido redescobertas e não só reinventadas em seus temas de origem, como novas fábulas vêm sendo inventadas, com a matéria complexa e contraditória oferecida pelo mundo deste final milénio. O denominador comum a todas elas – tradicionais ou reinventadas – é a crítica lúdica aos erros dos indivíduos ou da sociedade, e a escolha de animais como personagens, convivendo com os humanos.

Por ser, por excelência, um género literário atento às injustiças e erros dos homens contra os homens, e que “critica fazendo rir”, com certeza a fábula terá sempre um lugar assegurado na literatura das “sete partidas do mundo”.

{bibliografia}

Theóphilo Braga, Contos Tradicionais Portugueses, 2 vols., 2ª. ed., Lisboa, 1915; Nelly Novaes Coelho, Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil, 5ª. ed., S. Paulo, 1993; M. Menéndez Pelayo, Orígenes de la novela, I, Santander, 1963; Francisco Rodriguez Adrados, Historia de la fabula greco-latina, 2 vols., 1979; Peter Dronke, Fabula: Explorations into he Uses of Myth in Medieval Platonism, 1974.