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Designação para um tipo de drama que surge em Inglaterra no final da década de 60. O termo surge associado à peça que John Osborne apresenta a 8 de Maio de 1956 no London’s Royal Court Theatre, Look Back in Anger. Esta peça, símbolo de uma geração que ficou conhecida como “angry young men”, é um retrato genuíno da vida da classe média-baixa em Inglaterra. Uma classe social que vive uma época de descrença total no poder político, que vive uma revolta contra a ordem social estabelecida. A santidade do casamento, os tabus face ao sexo, os valores da vida familiar, bem como as convenções consolidadas da Igreja foram mais do que nunca postas em causa.

A maioria dos autores destas peças pertence a esta classe menos favorecida, e pretende vê-la representada no palco. As personagens centrais destas peças são o reflexo das pessoas com quem eles conviveram na infância, pessoas que lutavam diariamente contra as faltas materiais e emocionais, cujas vidas até esse momento não tinham sido dignas de serem representadas no teatro inglês dominado pelos valores morais das classes mais favorecidas. Jimmy Porter, o protagonista de Look Back in Anger, é uma personagem, como diz Osborne, “who speaks out of the real despair, frustations, and sufferings of the age we are living in, now, at this moment.” ( AA.VV., Landmarks of Modern British Drama: The Plays of the Sixties,1ªed., Methuen, Londres, 1985, p.21).

Com o kitchen-sink drama surge um novo vocabulário, mais realista, mais agressivo, novas formas de diálogo e novas formas teatrais. A divisão em três ou quatro actos que até aí parecia apropriada, é agora desprezada. Opta-se por uma estrutura mais flexível, com cenas mais curtas, que são interrompidas por música, poesia, ou qualquer outro artifício pouco naturalista.

O kitchen-sink drama revela a insatisfação pessoal desta vaga de dramaturgos intelectualmente comprometidos com as classes trabalhadoras. John Arden, David Mercer, John Mortimer, Harold Pinter, Arnold Wesker, Tom Stoppard, são alguns exemplos destes jovens dramaturgos. Todos partilham a indignação contra a apatia, a complacência e a quebra do idealismo. John Osborne diz mesmo: “ O meu desejo é fazer as pessoas sentir, dar-lhes algumas lições de sentimentos. Assim, poderão pensar. Em alguns países, isto poderia tornar-se uma coisa perigosa, mas parece haver pouco perigo de que as pessoas pensem demasiado, ao menos em Inglaterra nestes dias.” (AA.VV., Depoimentos dos “Angry Men”, 1ªed., trad.Artur Portela Filho, Presença, Lisboa, 1963, pp.81-82.).

Na mesma época surgem os kitchen-sink painters, termo que se aplica às obras dos pintores realistas sociais ingleses, como por exemplo, John Bratby. Bratby pintava interiores domésticos, e foi o membro mais destacado deste efémero grupo da kitchen-sink school (neo-realismo), que surge como reacção à abstracção contemporânea.

{bibliografia}

AA.VV.: Depoimentos dos “Angry Men”(1963); AA.VV.: Landmarks of Modern British Drama: The Plays of the Sixties (1985); Arnold Wesker: Words as Definitions of Experience (1976); G.R.Taylor: Anger and After (1969); M.Esslin: Drama in the Sixties (1966); Maurice Valency: The End of the World: an Introduction to Contemporary Drama (1980); Peter Ansorge: Disrupting the Spectacle: Five Years of Experimental and Fringe Theatre in Britain (1975); Richard Gilman: The Making of Modern Drama (1987).