Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Por leitor implicado pode entender-se “leitor implícito” ou “narratário”, ou seja, o “destinatário intratextual do discurso narrativo” (Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, Almedina, 1988), por oposição ao leitor real (v.) ou extratextual. Walker Gibson definiu o “leitor fictício” como uma espécie de personagem inscrita no texto, cuja máscara e fato o leitor real veste para poder experienciar aquela linguagem. Assim, Para Gibson, “um texto mau é aquele em cujo leitor fictício descobrimos uma pessoa na qual recusamos transformar-nos.” Deste modo, o leitor implicado é uma entidade definível, antes mesmo de se ver concretizado por cada leitor real, na medida das suas expectativas e exigências para com o leitor exterior ao texto, e que detém certa autoridade no processo literário, já que tem o direito legítimo de impôr determinadas regras para a sua concretização. Contudo, a observação de Gibson permite concluir igualmente que esta autoridade, e portanto a própria pertinência do leitor fictício enquanto entidade relevante na leitura de um texto é suplantada, ou anulada, pela autoridade do leitor concreto que, no caso de se recusar a representar o papel que o texto fornece, pode pô-lo de lado como mau: Gibson acredita que o leitor real – “respeitável” – nunca se engana em relação à qualidade do texto: se não consegue pôr-se na pele do leitor fictício é porque não vale a pena fazê-lo. Para além disto, e como é natural, o leitor implicado não passaria, no fundo, de um leitor idealizado pelo autor, no texto, e que no processo da leitura se dissipa irremediavelmente em face da interpretação. De acordo com esta acepção, portanto, o leitor implicado é aquele que existe apenas na obra – se assim fosse possível identificá-lo, numa dimensão estritamente interna, anterior a qualquer leitura, superior a qualquer processo de análise ou interpretação.

Gerald Prince utiliza o conceito de “narratário” de Gérard Genette – uma figura, narrada no texto, que é receptora deste – para conceber uma taxonomia de leitores utilizados como instrumento de análise, e uma tipologia de narrativas que torna possível classificar tipos de ficção de acordo, não só com os tipos de narrador, mas ainda com os tipos de narratário. Wolfgang Iser define “leitor implicado” como a entidade que “incorpora tanto a pré-estruturação do sentido potencial efectuada pelo texto, como a realização deste potencial efectuada pelo leitor durante o processo de leitura.” (The Implied Reader, 1974).

{bibliografia}

Walker Gibson, “Authors, Speakers, Readers and Mock Readers”; Wolfgang Iser, The Implied Reader: Patterns of Communication in Prose Fiction from Bunyan to Beckett, Johns Hopkins University Press (1974).