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Tipo de alto burlesco que simula genericamente o modo heróico ou épico no tratamento de assunto trivial ou mesquinho. Como todas as outras variedades de burlesco, sustenta deliberadamente uma incongruência entre estilo e assunto. Quando o alto burlesco imita determinada obra e não apenas modo e estilo em dimensão genérica, estamos perante uma paródia. Em contrapartida, o baixo burlesco usa estilo trivial ou mesquinho para assunto sério ou elevado (podendo então chamar‑se hudibrástico, termo derivado de Hudibras, poema narrativo de Samuel Butler, autor da Restauração inglesa), ou na imitação de determinada obra (modalidade apelidada de travesty).

O burlesco teve grande aceitação em certas épocas, inclusive na Europa dos séculos XVII e XVIII, constituindo implícito reverso irónico de rigorosas distinções normativas concordantes com o decorum da teorização neoclássica. Numa primeira fase do Período Augustano da literatura inglesa, por exemplo (entre a Restauração monárquica de 1660 e o final da dinastia de Orange, em 1714), predominaram obras de baixo burlesco; numa segunda fase do mesmo período (do início da dinastia seguinte, de Hanover, e aproximadamente até meados do século XVIII, em plena época Georgeana) avultaram exemplos de alto burlesco. Em todas as épocas, porém, se encontram as várias modalidades e, eventualmente, respectivos cruzamentos. A simulação herói-cómica não implica necessariamente uma depreciação do estilo ou dos subgéneros simulados; frequentemente testemunha até considerável apreço dos seus autores por formas épicas tradicionais. Ao recorrerem a tal simulação, muitos escritores europeus dos séculos XVII e XVIII visam ainda prestar tributo a formas clássicas, em geral valorizadas pelas elites, mas cada vez menos harmonizáveis com o teor da cultura burguesa moderna e os gostos do chamado grande público.

{bibliografia}

Arthur Pollard: Satire (1970, várias reimp.); John D. Jump: Burlesque, (1972, várias reimp.); F. Bar: Le Genre burlesque en France au XVIIe siècle. Étude du style (1960); J. Emelina: Le Comique (1991)