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1. Os
ideologemas funcionam como os topoi aristotélicos,
constituindo os princípios responsáveis pela coesão e coerência
do discurso social e cultural, o que nos garante ao mesmo tempo
a compreensão da própria ideologia do discurso. Nas teorias de
Mikhail Bakthin sobre a narrativa, o ideologema designa aqueles
termos ou expressões que induzem a uma determinada ideologia.

É a partir desta acepção que Fredric Jameson discute longamente
o termo em The Political Unconscious, onde o define como
“a historically determinate conceptual or semic complex which
can project itself variously in the form of a ‘value system’ or
‘philosophical concept’, or in the form of a protonarrative, a
private or collective narrative fantasy” (The Political
Unconscious: Narrative as a Socially Symbolic Act
, Cornell
University Press, Ithaca, 1981, p.115).
A discussão
de um texto literário a partir de um ideologema, por exemplo o
conceito de ressentiment (“ressentimento”) na literatura
vitoriana, para seguir o exemplo tratado por Jameson, ou o
conceito de decandentismo na literatura europeia do final do
século XIX, permite concluir que certos constrangimentos
culturais e sociais podem influenciar a construção de uma obra
de arte ou mesmo um certo tipo de literatura de época,
produzindo géneros e criações literárias fortemente
influenciados pela ideologia dominante na sociedade. De notar
que um mesmo ideologema pode ter diferentes interpretações e
efeitos, dependendo sempre do sistema ideológico imposto sobre o
texto literário. O contexto em que um ideologema luta em termos
hermenêuticos com o domínio de outro ideologema numa mesma
produção literária não é mais do que uma extensão da própria
luta de classes que caracteriza a história da sociedade
ocidental.

2. Termo
que possui a mesma operacionalidade do conceito de intertexto
nas teorias semióticas. O grupo de investigadores reunidos no
projecto editorial Tel Quel tratou demoradamente o tema na obra
de conjunto Théorie d’ensemble (1968). Para Julia
Kristeva, um ideologema é a mais pequena unidade inteligível de
uma ideologia. A proposta de Kristeva foi elaborada a partir do
conceito de fonema (a mais pequena unidade de som) e de
sema (a mais pequena unidade de sentido), tese emprestada
do formalista russo P. N. Medvedev. Em “Le texte clos”, Kristeva
, revendo o conceito formalista, propõe que se abandone a antiga
divisão dos géneros literários da retórica antiga e se adopte,
no quadro semiótico, uma tipologia dos textos.

Neste quadro, apresenta o conceito de ideologema como uma função
intertextual que garante a ligação histórica e social dos textos:
“Le recoupement d’une organisation textualle (d’une pratique
sémiotique) donné avex les énonces (séquences) qu’elle assimile
dans son espace ou auxquels elle renvoie dans l’espace des
textes (pratiques sémiotiques) éxterieurs, sera appelé un idéologème.”
(Sèméiotikè: Recherches pour une sémanalyse, Seuil,
Paris, 1969, pp.52-53).
Em outra
obra fundamental, Le Texte du roman: approche sémiologique d’une
structure discursive transformationnelle
(1970), o
ideologema é visto como uma força motriz do texto que revela as
suas implicações sociais e históricas.