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Conceito da crítica feminista que diz respeito ao processo cultural de transformação masculina da identidade da mulher, obrigando-a a pensar, a agir e a escrever como os homens. O processo inscreve-se na crítica de todas as formas de poder androcêntrico sobre a escrita feminina ou sobre o domínio cultural dos homens que sempre obrigaram as mulheres a respeitar os códigos masculinos e a expressarem-se de acordo com os padrões de comportamento ditados pelas sociedades patriarcais. A crítica norte-americana Judith Fetterley prestou particular atenção às tentativas de imasculinização literária na ficção americana num livro muito debatido, The Resisting Reader: A Feminist Approach to American Fiction (1978), numa altura em que a crítica literária apenas prestava atenção à figura da mulher descrita no mundo ficcional produzido por homens. Este processo conduz necessariamente a uma imposição parcial da figura da mulher, que o leitor não pode discutir, pelo menos o leitor do século XIX e o da primeira metade do século XX. Fetterley defende que toda a literatura norte-americana é maioritariamente masculina e que o efeito que conseguiu produzir no leitor feminino foi sempre o da imasculinização, o que deve conduzir hoje a uma cada vez mais necessária emancipação da mulher como leitora de literatura produzida por homens. Trata-se de redescobrir a voz da mulher, uma voz capaz de vencer o silenciamento da imasculinização: "[f]eminist criticism represents the discovery/recovery of a voice, a unique and uniquely powerful voice capable of canceling out those other voices … which spoke about us and to us but never for us" (Fetterley, 1981: xxiii-xxiv). A formação da mulher como leitora crítica passa então pela libertação de todos os preconceitos que se entrelaçam nas ficções masculinas e pela descoberta de uma identidade cultural própria.

Obviamente, este ponto de vista só faz sentido se acreditarmos que todas as imagens femininas criadas por homens são premeditamente anti-femininas de alguma forma, o que parece impossível de provar. Se é verdade que os retratos de mulheres do romance do século XIX, por exemplo, são retratos codificados por visões masculinas supostamente alcançadas de um lugar superior de sociedades, onde a mulher parece ser apenas um adereço, não é menos verdade que as mais belas imagens da mulher e do feminino nos foram legadas por poetas homens e que muitos retratos femininos na ficção (veja-se a Joaninha de Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, por exemplo, ou muitas mulheres do universo de Balzac) estão mais próximos de verdadeiros panegírios do que de visões hostis ou imasculinizadas, com o sentido depreciativo que a crítica feminista concede a este termo.

{bibliografia}

Clare Kinney: “Lost in Translation: The Vicissitudes of the Heroine and the Immasculation of the Reader in a Seventeenth Century Paraphrase of Troilus and Criseyde”, Exemplaria: A Journal of Theory in Medieval and Renaissance Studies, Fall, 5:2 (1993); J. Fetterley: The Resisting Reader: A Feminist Approach to American Fiction (1978).

http://www.bridgew.edu/DEPTS/ARTSCNCE/JIWS/nov00/a_gynoft.htm