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Na segunda metade do século XIX, sob o signo do espírito decadente que transformou a poesia numa arte de desencanto perante a vida, muitos artistas declararam sofrer do mal du siècle (mal do século), especialmente aqueles que seguiram à letra a mensagem pessimista de Baudelaire. O sentido pejorativo que foi atribuído a todas as formas de decandentismo era assumido como um motivo de orgulho para o artista que pretendia divorciar-se das convenções do ultra-romantismo e do sentimentalismo individual que ainda prevalecia na lírica. Todos sentiam que o seu século estava doente e que o artista era a maior vítima dessa doença global. O jornal Le Décadent, a filosofia de Schopenhaeur e Nietzsche, a música de Wagner, a poesia de Baudelaire, Verlaine e todos aqueles que a história catalogou como poetas malditos, sofrem do mal du siècle, que uma antítese da alegria de viver, bem ilustrada na história trágica que Baudelaire conta de uma mãe que acabara de dar à luz, para seu infortúnio, um poeta. Sentir-se melancólico, entediado, vencido pela vacuidade da vida (ennui), nostálgico ou terrivelmente aborrecido, ser boémio ou andar perdido de tédio são condições necessárias para o diagnóstico do mal du siècle. Os poetas portugueses que mais sofreram desta doença terão sido António Nobre e José Duro.