Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Do gr. meíosis

(“diminuição”), o termo refere-se a um tipo
de figura de retórica de significado próximo da litotes, por
nomear uma coisa depreciativamente, isto é, pelo seu contrário
de menor valor proporcional. Por exemplo, quando apreciamos um
carro de luxo e nos referimos a ele como uma “carroça” ou um
“carrito”.

Nos manuais retóricos clássicos latinos, assume as designações
de extenuatio, detractio ou diminutio.
Em inglês, traduz-se geralmente por understatement, o que
mostra tratar-se de uma figura de aplicação polivalente e
facilmente confundida com a ironia (a meiosis ocorre
quase sempre em situações de comunicação irónica), com a litotes
(a meiosis só se diferencia da litotes porque esta obriga
à negação do significado contrário àquele que se pretende
atribuir a uma coisa; a meiosis é derrogatória por definição, ao
passo que a litotes é ironicamente laudatória) e a tapinosis
(tal como a meiosis, serve para diminuir as qualidades de
uma coisa). O contrário da meiosis é a auxesis, uma
espécie de ironia que sobrevaloriza uma coisa que, pela sua
natureza, não tem valor reconhecido (no exemplo inicial,
diríamos de um carro de baixo valor que é uma “bomba”). Neste
caso, a auxesis ou amplificatio só se distingue da
hipérbole porque ocorre em contextos em que se combina com a
ironia, o que não é condição necessária à formulação de uma
hipérbole. Todo o poema de W. H. Auden
“Musée
des Beaux Arts” (in Collected Poems, 1978) é um exercício
de ironia sobre a forma como a arte se afasta por vezes da
realidade. Auden utiliza a meiosis para construir um
poema de contrastes entre a crueza da vida e a forma como por
vezes essa vida é sublimada pela arte, esquecendo aquilo que tem
de mais impediedoso:

About suffering they were never wrong,
The Old Masters; how well, they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking
dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting

For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot

Where the dogs go on with their doggy life and the torturer’s
horse
Scratches its innocent behind on a tree.

In Breughel’s Icarus, for instance: how everything turns away

Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,

But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
had somewhere to get to and sailed calmly on.

O poema nasceu a partir de uma visita de Auden ao Museu de Belas
Artes de Bruxelas, em 1938, onde o poeta observou um quadro de

Peter Breughel, “A queda de Ícaro”, que lhe inspirou este grito
contra a apatia dos homens perante o sofrimento humano.