Texto que dispõe tipograficamente as suas palavras de forma a obter uma sugestão figurativa semelhante ao tema tratado. Os primeiros caligramas foram os hieróglifos. Símias de Rodes (séc. III a.C.) terá sido o primeiro a ter utilizado versos figurados. Este tipo de composição também é costume designar-se por carmen figuratum, pattern poem, Bildergedicht ou poema figurativo. O inglês Puttenham descreveu com pormenor o género no seu tratado The Art of English Poesie (1589). Foi seu cultor o poeta metafísico inglês do século XVII George Herbert, que desenvolveu caligramas que sugerem formas litúrgicas como sinos e altares. O seu poema “The Altar” ilustra, pois, uma espécie particular de caligrama: o poema-altar (altar poem):
A broken ALTAR, Lord, thy servant reares,
Made of a heart, and cemented with teares,
Whose parts are as thy hand did frame;
No workman’s tool hath touch’d the same.
A HEART alone
Is such a stone
Thy power doth cut,
Wherefore each part
Of my hard heart
Meets in this frame,
To praise thy name.
That if I chance to hold my peace
These stones to praise thee may not cease.
O let thy blessed SACRIFICE be mine,
and sanctifie this ALTAR to be thine.
Ficaram também célebres os Calligrammes (1918) de Guillaume Apollinaire, cujo poema “Il pleut” sugere a queda de lágrimas numa página e o poema “Paysage” sugere uma árvore:
CET
ARBRISSEAU
QUI SE PRÉPARE
A FRUCTIFIER
TE
RES
SEM
BLE
Aquilo a que o poeta francês, inspirado no cubismo, chamou “lirismo visual” acabou por fazer escola nas gerações seguintes. Várias formas modernas de poesia como a surrealista, a experimentalista, a concreta e a visual, exploraram as possibilidades de figurativização textual, propondo caligramas como o seguinte “Pêndulo” (1962), de E. M. de Melo e Castro:
P
P
P Ê N
P Ê N D
P Ê N D U
P Ê N D U L
P Ê N D U L O
O poeta americano e. e. cummings (1894-1962) também se notabilizou com a sua poesia figurativa inovadora. Embora se utilizem caligramas na poesia concreta dos anos 60, esta distingue-se das formas convencionais da poesia figurativa porque, por vezes, não é possível fazer a sua leitura em voz alta sem se perder o sentido do texto, o que não deve acontecer num caligrama, cujo grafismo não deve impedir a leitura expressiva do texto. As experiências conduzidas por estes poetas dos anos 60 ampliaram o campo lexical do caligrama com as variantes: “visopoema”, “audiovisopoema”, “poema fílmico”, “kinetofonia”, etc. Veja-se, por exemplo, as propostas de PO. EX: Textos Teóricos e Documentos da Poesia Experimental Portuguesa (Lisboa, 1981), org. por E. M. de Melo e Castro.
J. Peignot: Du Calligramme (1978); Jean Gerard Lapacherie: “Ecriture et lecture du calligramme”, Poétique (1982); Jean Pierre Goldenstein: “Pour une semiologie du calligramme”, Que Vlo ve? Bull. de l’Assn. Internat. des Amis de Guillaume Apollinaire (1981); Nicole Marie Mosher: Le Texte visualise: Le Calligramme de l’epoque alexandrine a l’epoque cubiste (1990); Penelope Sacks: “La Mise en page du calligramme”, Que Vlo ve? Bull. de l’Assn. Internat. des Amis de Guillaume Apollinaire (1981); Segolene Le Men: “Calligraphie, calligramme, caricature”, Langages (Montrouge, França, 1984).
Comentários recentes