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Breve texto em homenagem a alguém em particular, demonstrando admiração profissional ou pessoal, afecto ou gratidão por dívida intelectual, ou simples cortesia para com um amigo ou familiar. A dedicatória escreve-se geralmente numa das páginas de abertura de um livro, frequentemente na página de rosto interior ou na primeira página em branco. Horácio foi dos primeiros a escrever dedicatórias literárias, homenageando Mecenas por ter patrocinado as suas Odes. Virgílio também dedicou as Geórgicas à mesma figura. Camões dedica Os Lusíadas a D. Sebastião (Canto I, 6-18) por razões políticas, sobretudo porque o jovem monarca era uma figura tutelar. Da poesia trovadoresca à poesia barroca, encontramos já vários exemplos de dedicatórias que funcionam como verdadeiros motes — é assim, por exemplo, na cantiga de Afonso X, “Esta é de loor de Santa Maria, com’ é fremosa et bõa, [e] á gran poder”, ou num célebre soneto do poeta barroco Jerónimo Baía: “A F., desfavorecendo com a boca e desprezando com os olhos”. Há também o caso das dedicatórias que têm objectivos de interesse pessoal pouco literários, como o caso célebre de uma certa dedicatória que o dramaturgo francês Corneille cobrou, por uma elevada quantia, a M. de Montoron para a obra Cinna. O exemplo pode ser comparado à avaliação comercial de um autógrafo que hoje um livro pode ter: se possuir uma dedicatória pessoal, um determinado livro de um autor já falecido, por exemplo, ou de um autor vivo que seja um
best-seller, e uma vez esgotada a obra em questão, o preço comercial de tal obra é consideravelmente aumentado. Tal
não significa que a dedicatória tenha na literatura contemporânea (talvez mesmo a partir da Revolução Francesa) a
mesma motivação de mecenato ou pura reverência a alguém de quem se espera um favor em troca. Balzac já advertira, na sua época, que “o tempo das dedicatórias já passou”, porque então o escritor já não se sentia obrigado a agradar a reis ou a príncipes ou a grandes mecenas.