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O “nome falso”, significado para o qual aponta a etimologia de pseudónimo (pseudônimo, no Português do Brasil), ocorre, na literatura, toda vez que o sujeito empírico da escrita deseja ocultar seu verdadeiro nome, para não ser identificado com o sujeito da enunciação do discurso que apresenta. Tem-se, assim, uma forma de mascaramento, ou de camuflagem, espécie de jogo de esconde-esconde, no qual a simulação da existência de uma outra pessoa empírica vai estabelecer uma relação dialética entre impostura e epifania, dado que o mecanismo do mascaramento é sempre bipolar: por um lado, dá-se como ocultação: por outro, como proclamação. A máscara assume, pois, o papel de uma falsa identidade que, entretanto, chama a atenção para a verdadeira, sendo, por consequência, uma “falsa verdade” que mais exibe do que oculta o que está por detrás. O pseudónimo pode ser uma forma de defesa, a exemplo do mimetismo que ocorre no reino animal, em vista da existência de predadores que ameaçam a espécie. Instrumento simbólico verdadeiramente significativo na gestão da angústia causada por fatores externos ou internos, o pseudónimo como máscara acaba por implicar uma inegável necessidade de reconhecimento, por mais escondida que seja pelo sujeito empírico que, assim, conjura o desprazer do real que se lhe apresenta através da camuflagem que intimamente se mistura com a epifania da exibição.

Vários são os exemplos literários do uso de pseudónimos ao longo dos séculos: François-Marie Arouet preferiu assinar seus escritos como Voltaire; Jean-Baptiste Poquelin como Molière; Marie Henri Beyle como Stendhal; Amandine Aurore Lucie Dupin como George Sand; Samuel Langhorne Clemens como Mark Twain; José Maria dos Reis Pereira como José Régio; Adolfo Rocha como Miguel Torga; Paulo Barreto como João do Rio; Edi Dias da Cruz como Marques Rebelo.

O uso do pseudónimo talvez fosse totalmente inútil se todos os leitores levassem em conta o fato de o criador do texto literário ser necessariamente um fingidor, um acionador do princípio da mimese em sua mais absoluta evidência. Isso evitaria a busca de camuflagem, uma vez que não haveria o perigo de o sujeito da enunciação ser confundido com o sujeito empírico.

{bibliografia}

Jacques Bril: Le Masque, ou Le Père Ambigu (1983); LAPLANCHE, J. Laplanche e J.-B. Pontalis: Vocabulário da Psicanálise (s. d.); Luiz Costa Lima: “Persona e sujeito ficcional”, Anais do 2º Congresso da ABRALIC (Belo Horizonte: ABRALIC/ UFMG, 1990); Henri Coston: Dictionnaire de pseudonymes (2ªed., ver., 1965-69); T. J. Carty: A Dictionary of Literary Pseudonyms in the English Language (1995)