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O conceito de unidade lexical foi introduzido por Michael Lewis (1993, 1997, 2000), um dos fundadores da Abordagem Lexical. Ele sustenta que o termo unidade lexical é muito vasto e abarca diversos dos aspetos (linguísticos e culturais) a que se submete o ensino-aprendizagem de uma língua. O autor encara o código linguístico como um grupo de segmentos pré-fabricados (chunks) de multipalavras que, em articulação, produzem enunciados coerentes. O ensino da segmentação lexical (pedagogical chunking) assume grande relevo para Lewis. Ele acredita que na memória não se armazenam vocábulos isolados, mas sim unidades significativas mais amplas.

Atendendo às orientações que sustentam a Abordagem Lexical, há a realçar a importância do aluno aprender a compreender e a determinar as unidades lexicais complexas ou pluriverbais que compõem a linguagem. O foco da análise lexical não deve ser a palavra, mas sim as referidas unidades. O conceito de palavra deve interpretar-se segundo a definição trivialmente divulgada que a determina como o elemento que na língua escrita se situa entre dois espaços em branco e, na falada, entre duas pausas.

Em simultâneo, na linguagem, aparecem habitualmente combinações linguísticas que se sobrepõem à palavra, formando um todo inseparável, por exemplo: al fin y al cabo; a lo largo de; tomar el sol; oveja negra; viejo verde. Elementos lexicais como os mencionados, existem em qualquer idioma e o seu uso é muito frequente, facto que leva à conversão dessas unidades numa parte assaz relevante do ensino do léxico. Os dados apresentados determinam o motivo de adotar o conceito ‘unidade lexical’ frente ao termo ‘palavra’ como atitude importante no ensino do vocabulário espanhol.

O conceito de unidade lexical é importante para a Abordagem Lexical[1]. Nas palabras de Gómez Molina (2008: 497), “la unidad léxica (lexical item) [es] (…) la unidad de significado en el lexicón mental, que sirve como elemento vehiculador de la cultura del español y puede estar formada por una o más palabras (cabeza, paraguas, dinero negro, a la chita callando, tomar el pelo, no hay más cera que la que arde, etc.)”[2]. Como é possível constatar, estamos perante unidades mínimas com os mais variados propósitos: sintáticos, semânticos e pragmáticos, por exemplo.

Entre as unidades lexicais constituídas por uma palavra, simples ou composta, o investigador (2004: 29) faz referência a “coche, agridulce, camposanto”, enquanto para os exemplos que se relacionam com as unidades pluriverbais, utiliza expressões como “buenos días, encantado de conocerte, llover torrencialmente, odio mortal, hora punta, pedir la mano, por la boca muere el pez”. A perspetiva pedagógica, e não linguística, é a que nos permite considerar estes exemplos como sendo unidades lexicais, uma vez que nem todos apresentam um significado unitário.

Partilhando da exposição de Gómez Molina (2008: 502), consideramos que os segmentos lexicais pertencem a diversas classes e encontram-se organizados em diferentes tipos. Entre eles, destacamos as palavras (escuela, arroz); multipalavras (de un lado/de otro; por una parte/por otra; pasado mañana, de esa manera, etc.); colocações (cometer una falta, oportunidad de oro, etc.); expressões fixas, como fórmulas sociais ou rotinas (buenas tardes, felicidades, etc.), enunciados de cortesia (por favor, muchas gracias, etc.), ou frases hechas (le importa…; puede decirme como ir a…)[3].

De acordo com Luque Durán (1998: 124), as unidades lexicais são “elementos que se han cristalizado a manera de fotos fijas constituyéndose como realidades peculiares, únicas y discretas (signos saussureanos)”. Uma unidade lexical pode compreender uma ou mais palavras, entendendo esta como uma sequência de letras e/ou sons limitados e que tem um ou vários significados. A este propósito, Cervero e Pichardo (2000: 44) entendem que a unidade lexical é

“una secuencia con significado unitario que remite globalmente a un concepto, constituye un sistema abierto y puede estar integrada también por una o más palabras: expresiones prepositivas y conjuntivas, frases hechas, combinaciones sintagmáticas bimembres o trimembres y expresiones lexicalizadas”.

Levelt (1989: 182) considera que a unidade lexical é um conjunto de, pelo menos, quatro informações básicas: a especificação sobre o sentido (meaning); o conjunto de propriedades sintáticas (syntactic properties); a especificação morfológica (morphological specification); e as características fonológicas (phonological segments). Por seu lado, Bogaards (1994: 19) baseia-se no estudo de Cruse (1986: 77) e afirma que as unidades lexicais são “«l’union d’une forme lexicale et d’un sens unique» [(…); elles sont] «les plus petites parties qui répondent aux deux critères suivants: une unité lexicale doit être au moins un constituant sémantique [(…) et] un mot»”. De acordo com as palavras de Bogaards, podemos ainda acrescentar que as unidades lexicais são unidades mínimas para determinadas propósitos sintáticos, semânticos e pragmáticos. Além do mais, detêm grande complexidade linguística, são utilizadas como um todo significativo (importancia capital, entablar amistad…), ou não (viajar en, montar a…), e aceites socialmente.

Para Graça Rio-Torto (2006: 12), as unidades lexicais, no seu conjunto, e em cada um dos elementos que as constituem, são “portadoras de significação lexical e/ou de significação gramatical. A gramática de uma unidade lexical não é dissociada da sua significação léxico-gramatical, da estrutura conceptual que a suporta, e do universo referencial para que remete”. A investigadora (2006: 13) considera que as unidades lexicais se caracterizam, em diferentes graus, pela sua complexidade estrutural (morfológica), extensão e opacidade “interna e/ou externa, seja pela sua diversa opacidade ou transparência semânticas, seja pela sua diversa (não)opacidade sintáctica”.

A autora (2006: 20) sublinha que, independentemente da variação das designações metalinguísticas adotadas[4], as unidades lexicais, com destaque para as lexicalmente complexas, funcionam como uma “única unidade lexical categorialmente falando [(…)] e apresentam uma elevada coesão semântica”. Essa coesão, de acordo com Rio-Torto (2006), apresentará maior ou menor transparência composicional, opacidade e iconicidade, sendo que “a cristalização varia na razão directa da sua imutabilidade”.

Em nosso entender, a unidade lexical é constituída por uma ou várias palavras, que formam um todo significativo, de natureza estrutural e semântica fixas. Ela é um elemento aglutinador e funcional integrado no léxico mental e reconhecido pela sua identidade autónoma. A unidade, simples ou complexa, funciona como uma universalidade dinâmica com poder referencial, sendo que, no segundo caso, não há o confinar de significado na individualidade dos termos constituintes. Neste âmbito, Rio-Torto (2010: 237) afirma que a unidade lexical pluriverbal – o conjunto de palavras que a formam – é objeto de “especialização de sentido, [de] alguma forma de fixidez ou de cristalização semântica, que o afasta do seu sentido composicional, e que o marca com graus diversos de idiomaticidade”. Embora as referidas características sejam, em geral, símbolo da unidade pluriverbal, convém salientar que, mediante o conjunto lexical existente, os elementos de cada unidade complexa oferecem hipóteses diversas de mutabilidade, sobretudo, ao nível semântico.

{bibliografia}

BOGAARDS, P., Le vocabulaire dans l’apprentissage des langues étrangères, Langues et apprentissage des langues, Hatier/Didier, Paris, 1994. 

CERVERO, Mª. J. y PICHARDO, F., Aprender y enseñar vocabulario, Edelsa, Madrid, 2000.

CRUSE, D. A., Lexical semantics, Cambridge University Press, Cambridge, 1986.

GÓMEZ MOLINA, J. Ramón, «El léxico y su didáctica: una propuesta metodológica». In: Revista de estudios de adquisición de la lengua española: (REALE), Universidad de Alcalá de Henares, Departamento de Filología, volume 7, 1997, pp. 69-93.

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LEVELT, W. J. M., Speaking. From intention to articulation, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, 1989.

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LEWIS, M., Teaching collocation. Further developments in the lexical approach, Heinle, Language Teaching Publications, Boston, 2000.

LEWIS, M., The Lexical Approach, The State of ELT and a Way Forward, Language Teaching Publications, Hove, 1994. (1ª edição 1993). 

LUQUE DURÁN, J. de D., «Introducción a la tipología léxica». In: Temas de Lingüística y Gramática, edição de B. Gallardo Paúls, Universidad de Valencia, Valencia, 1998, pp. 122-145.

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SANTAMARÍA PÉREZ, Mª. I., La enseñanza del léxico en español como lengua extranjera, Publicaciones de la Universidad de Alicante, Alicante, 2006.

Webgrafia

RIO-TORTO, G. Maria, “O léxico: semântica e gramática das unidades lexicais”. In: Maria Francisca Athayde, ed. lit., Estudos sobre o léxico e gramática, nº 23, Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2006, pp. 11-34, [online], Acedido em: agosto, 20, 2011, URL: http://www1.ci.uc.pt/ celga/membros/docs/textos_pdf/o_lexico.pdf.

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[1] Os contributos da Abordagem Lexical respeitantes à metodologia do ensino do vocabulário relacionam-se com o conceito da divisão do léxico em unidades superiores à palavra: as unidades lexicais. Neste âmbito, o mais útil para o aprendente é saber combinar os segmentos lexicais e aprender a usá-los e adaptá-los em diferentes contextos. A memorização das unidades lexicais facilita a fluidez e a precisão do estudante na sua expressão oral e escrita, ajudando-o a aprender tanto os vocábulos isolados como o conjunto.

[2] No entanto, como realça o investigador (1997: 73), “la unidad léxica por excelencia es [y será siempre] la palabra”.

[3] Apresentando outra proposta de organização, Santamaría Pérez (2006) classifica as unidades lexicais como unidades univerbais e pluriverbais (colocações, expressões idiomáticas e fórmulas rotineiras).

[4] Atendendo à multiplicidade designativa, podemos fazer referência à terminologia adotada por Rio-Torto (1998: 14) ao distinguir “unidades lexicais monomonemáticas (luz, mar, paz, sol), ou seja, unidades compostas apenas por um constituinte morfolexical, de unidades lexicais compósitas, ou, como recentemente têm sido chamadas, unidades (poli)lexicais (David 1993; Fradin 1996) ou também polilexemáticas (Corbin 1997a), as que integram mais do que um constituinte morfolexical”.