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O termo gótico possui várias possibilidades de definição: inicialmente, Gótico designa uma antiga cultura bárbara; depois, no âmbito arquitectónico, significa excesso, ostentação, escuro e sombrio; musicalmente, traduz-se numa subcultura de rock dos anos ’80 de 1900 (GROOM 2012: xiiii); literariamente, traduz-se em excesso, representações de darkness, ruínas, otherness e transgressão.

Most often this usage is in connection with ignorance, cruelty, or savageness, qualities associated with the inherited Renaissance view of the middle ages. Sometimes, and with increasing frequency, it is used in connection with taste, and so becomes a critical adjective of disapprobation. (LONGUEIL 1923: 455)

Concentrando-nos no seu âmbito literário, o Gótico transparece em várias obras literárias dos finais do século XVIII e início do século XIX, mas igualmente transpareceu para obras e outras produções artísticas e estilos de vida dos séculos XX e XXI, explorando o imaginário com os traços verosímeis da história, apoiando-se no medieval:

[Gothic representations represent] a mediaeval atmosphere by means of mediaeval background, – lonely castles, haunted towers, subterranean passages, knights in armor, magic. (LONGUEIL 1923: 458)

Contudo, o termo já fora aplicado para as obras de Shakespeare, pois as suas célebres tragédias demonstram barbárie, terror e, por vezes, medo. As menções – directas e indirectas – a Shakespeare viram posteriormente a integrar e a transparecer nas obras de Ann Radcliffe e no segundo prefácio da célebre obra de Walpole, The Castle of Otranto (1764) (1),

But I had higher authority than my own opinion for this conduct. That great master of nature, Shakespeare, was the model I copied. Let me ask if his tragedies of Hamlet and Julius Cæsar would not lose a considerable share of their spirit and wonderful beauties (…) were omitted, or vested in heroics? (WALPOLE 1764)

tal graças à inspiração e a uma base de escrita extraída do drama renascentista.

Assim, apenas se pode afirmar a existência do gótico literário com a génese de The Castle of Otranto, onde é explorada a tragédia, o sombrio e o mistério, mas, acima de tudo, o horror, através de elementos simbólicos sombrios, como o castelo, as ruinas e as florestas densas. Depois de Walpole, muitos autores se seguiram: Ann Radcliffe, as irmãs Brontë, Charles Dickens, Edgar Allen Poe, Victor Hugo entre muitos outros. Como aspecto geral, quase todos recorreram a cenários escuros e com ruinas, com inspirações medievais, visualmente notáveis no constante recurso a castelos sombrios e de grandes dimensões, onde se construíram narrativas escritas que possibilitaram “traduções” visuais, onde reinam cenas sombrias, com nevoeiro, obscuras e, normalmente, num espaço nocturno e florestal, onde o medo e a ansiedade em relação ao desconhecido reinam, sempre reflectindo o medo das representações (sempre desconhecidas) de tudo aquilo que era um ‘outro’ – alheio ao conhecido e explorado.

No contemporâneo tem-se discutido acerca de um “Gótico Feminino”, demarcando-se especialmente pelo foco e ênfase nas figuras femininas e na sua representação,

While the male poets issued their manisfestos, dabbled in metaphysics, or cut a dash in fashionable drawing rooms, women were, if not invisible, then confined by circumstances, and by the more intangible prison of female property. (…) The argument goes that women writers chose to specialize in the depiction of personal relations in realistic settings (…) and that they employed a language of refined moral sentiment and feeling (…) their forte was miniaturism, attention to detail. (CLERY 2000: 1-2)

contrastando-as com as representações das várias possibilidades de masculino, como são exemplo Susan Hill, Daphne du Maurier, Fay Weldon, Dennis Lehane, entre outros. Quanto a Fay Weldon, no seu romance The Life and Loves of a She-Devil (1983), apresenta um homem, Bobbo / Bob, quase modelado como anti-herói, cujo carácter carece de valores morais e que, como consequência, sofre complicações na vida graças à sua mulher, Ruth, que passo a passo lhe corrompe a vida que tinha. Esta obra foi posteriormente adaptada ao cinema (1989) e à televisão (1986), pela BBC, onde se pode igualmente assistir a uma narrativa visual de horror e desgraça, de declínio.

Por outro lado, os cenários góticos podem tomar uma forma, além de sombria e escura, supernatural, onde vampiros, lobisomens e outras espécies ficcionais têm um espaço de representação próprios e qualquer ilusão toma forma, seja por via das palavras, seja pelo ecrã – como existe hoje a saga Twilight em escrito (Stephenie Meyer, 2005-2008) e a posterior adaptação ao grande ecrã (Catherine Hardwicke, dir., 2009-2013).

Em suma, o termo gótico apenas assume um conceito geral em vários âmbitos específicos, isto é, traduz-se por medo, horror, medievalismo ou até darkness, mas podendo sempre ser em épocas distintas, podendo ver o estilo gótico como um estilo intemporal graças às suas características adversas ao ser humano.

Nota:

(1) Texto disponível em <http://www.bibliomania.com/0/0/331/2422/28036/1/ frameset.html>. 

{bibliografia}

Clery, E. J. Women’s Gothic: from Clara Reeve to Mary Shelley. Tavistock: Northcote House / British Council, 2000.

Groom, Nick. The Gothic: A Very Short Introduction. Londres: Oxford University Press, 2008.

Longueil, Alfred E. “The Word ‘Gothic’ in Eighteenth Century Criticism”, em Modern Language Notes, Vol. 38, No. 8. Versão digital, Londres: The Johns Hopkins University Press, 1923. Pp. 453-460. Artigo disponível em: <http://www.jstor.org/ stable/2915232>, consultado em Dezembro de 2013.