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É uma forma poética, de origem medieval e que, a partir do Renascimento, foi incorporada pela literatura popular de tradição oral, publicada em folhetos de cordel. Como o nome já sugere, trata-se de um esquema de versos que se inicia, pelas sucessivas letras do alfabeto (de A a Z), desenvolvendo um tema ou assunto e exigindo grande talento do cantador. É género difícil que exige imaginação e destreza no disciplinar os assuntos e organizar o discurso poético.

Sua estrutura antiga tem-se mantido: versos em redondilhas 7 sílabas em sextilhas (estrofes de 6 versos). O mais antigo Abecê registado pela história é o de Santo Agostinho, Psalmus contra partem donati, conhecido como Psalmus Abecedarius (datado do ano 393). Há um famoso, escrito no séc. IX, cantando a batalha de Fontenoy, travada entre os netos de Carlos Magno, no ano de 841, versus de Bella que fuit acta Fonteneto. Na Renascença, o género popularizou-se, concorrendo com “romance” e cantigas.

Na Espanha, foi cultivado por Juan del Encina e mais tarde por Lope De Vega, com modificações de forma, como em Portugal o fizeram também, Camões (que compôs abacês em tercetos, com rimas abb, cdd, eff, etc.) e Gonçalo Fernandes Trancoso ( que compôs abecês sentenciosos, em quadras e versos hendecassílabos). Em Portugal, o género foi desaparecendo. Trindade Coelho tentou resgatá-lo com o ABC do Povo (1906).

No Brasil, o abecê entrou nos tempos coloniais, com a literatura de cordel e é cantado até hoje (anos 90) em feiras, festas e praças. Seus principais temas são: façanhas de cangaceiros valentes, boi fugitivos ou malassombrados, batalhas famosas, louvações a santos, a figuras ulustres, aanimais indomáveis (bodes, onças, vacas …) etc., etc.

Os abecês antigos, de tradição oral, eram anónimos. Em nosso século, começam a aparecer os abecês assinados, revelando sempre o nome do cantador que os inventou. Entre os mais famosos cantadores do início do século, estão: Nicandro Nunes da Costa, Jesuíno Alves Brilhante, Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Cuíca de Santo Amaro e Rodolfo Coelho Cavalcante, entre outros. O abecê continua a ser uma das mais afamadas formas de canto ou recitativo popular e tem seus grandes cultores. Um dos mais afamados em nosso dias, é Paulo Nunes batista (paraibano por nascimento e goiano por adopção), que já publicou centenas de abecês, milhares de folhetos de cordel, para além de livros de poesia culta, espiritualista.

 

Bibliografia:

 

Luís da Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro, 2 vols., Rio de Janeiro, 1962; Joseph M. Luyten, Literatura de cordel em São Paulo: saudosismo e agressividade, São Paulo, 1991; id., O que é Literatura Popular, São Paulo, 1983; Marlise Meyer (org.), Autores de Cordel, São Paulo, 1980; Franklin Maxado, Cordel, Xilogravura e Ilustrações, Rio de Janeiro, 1982; id., O que é literatura de cordel, Rio de Janeiro, 1980.