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Figura de retórica (também chamada congérie) que consiste na associação de diversos elementos linguísticos num mesmo enunciado, geralmente produzida pela enumeração (ou adição, adjectio) ordenada ou não de sentimentos, imagens, sujeitos ou factos, que aparecem condensados. Os retóricos antigos usavam a acumulação nos debates oratórios, ornamentando-os e submilando-os. Trata-se de uma técnica também muito utilizada na poesia modernista, por exemplo, como neste excerto da "Ode Marítima", de Álvaro de Campos: "A vós todos num, a vós todos em vós todos como um, / A vós todos misturados, entrecuzados, / A vós todos sangrentos, violentos, odiados, temidos, sagrados, / Eu vos saúdo, eu vos saúdo, eu vos saúdo!" (Livro de Versos, ed. crítica de Teresa Rita Lopes, Círculo de Leitores, Lisboa, 1993, p.111). Podemos falar ainda de acumulação retórica quando se sucedem várias figuras. Na poesia barroca, acumulação metafórica foi abundantemente explorada, como no soneto de Jerónimo Baía "A uma trança de cabelos negros", que termina assim: "Tudo sois, mas eu tenho resoluto / Que sois só na aparência enganadora / Negra, noite, tristeza, sombra, luto. // Porém na essência, ó doce matadora, / Quem não dirá que sois, e não diz muito, / Dia, gala, alegria, luz, senhora?" (Fénix Renascida, vol.III, p.204).

{bibliografia}

Leo Spitzer: La enumeración caótica en la poesia moderna (1945).