Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Forma muito antiga de literatura que consiste, na sua realização mais comum, numa interrogação engenhosa que convida à decifração. Por exemplo: “Que é, que é? / Semeei tábuas, / Recolhi tonéis. / Adivinhai, bacharéis.” – “A abóbora”. O outro tipo comum de adivinha assume um carácter mais descritivo-narrativo, e, nas suas realizações populares, apresenta-se com frequência em versos rimados: “Fumo, ruído / produz a subir, / cortando a aragem. / Onde faz mais barulho / é no fim da viagem.” – “O foguete”.

A construção de uma adivinha depende sempre de jogos de palavras e associações semânticas ambíguas. Podemos dizer que é necessário criar uma ilusão semântica para que a adivinha seja enigmática. Quanto mais complexa for essa ilusão tanto mais difícil será a decifração do enigma proposto. Por esta razão, uma das fórmulas mais utilizadas é a que se fundamenta em paradoxos, como nestas adivinhas: “Tenho capas sem ser estudante. / Tenho folhas sem árvore ser / E nem todos são capazes / De me compreender.” (R: O Livro); “Sou frio, / também sou quente, / sou fraco, /também sou forte, / nunca posso estar parado, / vejam lá a minha sorte!” (R: O vento). A ambiguidade das situações paradoxais deduz-se de construções que parecem conduzir a respostas impossíveis ou absurdas: “O que é que nasce a murro e morre à dentada?” Nada parece, à primeira vista, satisfazer estas duas condições radicais, porque falam de factos essenciais associados a seres vivos, como sejam o nascer e o morrer. É para este universo de seres vivos que somos levados a procurar a resposta, contudo ela encontra-se no universo oposto dos seres sem vida própria, que, por força da analogia, podem ser arrastados para o contexto construído. A resposta é o pão.

Todas as literaturas têm as suas colecções de adivinhas. Uma das mais ricas e antigas é a de Nicolas Reusner: Aenigmatographia (1602), mas é possível encontrar adivinhas praticamente em todas as culturas, muitas vezes em contaminação com outras formas de expressão que lhe estão próximas como as fábulas, as parábolas, os enigmas ou os epigramas.

 

Bibliografia:

 

A. Jolles: Einfache Formen; Legende, Sage, Mythe, Ratsel, Spruch, Kasus, Memorabile, Märchen, Witz (1930), (Formas Simples: Legenda, Saga, Mito, Adivinha, Ditado, Caso, Memorável, Conto, Chiste, 1977); Charles T. Scott: “Some Approaches to the Study of the Riddle”, in E. Bagby Atwood e Archibald A. Hill (eds.): Studies in Language, Literature and Culture of the Middle Ages and Later (1969); D. G. Blaumer: “The Early Literary Riddle”, Folklore, 78 (West Sussex, 1967); Daniel Yalisove: “The Effect of Riddle Structure on Children’s Comprehension of Riddles”, Developmental Psychology, 14 (Nashville, 1978); Elli Kongas Maranda: “Theory and Practice of Riddle Analysis”, Journal of American Folklore, 84 (1971); Ernesto Nunes: Adivinhas e Enigmas (1996); Glenda Poston: “Riddle Jokes About Animals”, North-Carolina Folklore Journal, 21 (1973); Manuel Viegas Guerreiro: Adivinhas Portuguesas (1957); Maria Valverde: Qual É Coisa Qual É Ela? Adivinhas e Charadas para Crianças (1920); Robert A. Georges e Alan Dundes: “Towards a Structural Definition of the Riddle”, Journal of American Folklore, 76 (1963); Roger D. Abrahams: “The Literary Study of the Riddle”, Texas Studies in Literature and Language, 14 (1972); Thomas A. Green e W. J. Pepicello: “The Folk Riddle: A Redefinition of Terms”, Western Folklore, 38 (Utah, 1979), “The Proverb and the Riddle as Folk Enthymemes”, Proverbium, 3 (1986); Waln K. Brown: “Cognitive Ambiguity and the Pretended Obscene Riddle”, Keystone Folklore, 18 (Filadélfia, 1973); Viale Moutinho: Adivinhas Populares Portuguesas (3ªed., 1990).