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[Do gr. anakoínosis, “comunicação, refutação”.] Figura de argumentação que consiste numa apóstrofe a um interlocutor com o fim de solicitar a opinião, na certeza de que ela será favorável. Pode-se tomar a forma de uma pergunta retórica, com a intenção de provar um ponto de vista de que se julga estar certo. Na Epístola aos Gálatas, S. Paulo pede a opinião dos seus interlocutores para os poder persuadir: “Ó Gálatas sem juízo! Quem foi que vos enganou? Eu tinha-vos feito ver Jesus Cristo crucificado. Só quero que me digam isto: vocês receberam o Espírito de Deus por terem cumprido a lei ou por terem aceitado a fé? Como podem ser tão faltos de juízo? Começaram pelo Espírito de Deus e querem agora terminar pelas vossas próprias forças? Não vos serviu de nada a experiência que tiveram? Talvez tenha valido alguma coisa. Quando Deus vos concede o seu Espírito e realiza prodígios no meio de vocês, é porque cumprem o que manda a lei ou porque aceitam a fé?” (3, 1-5). Este foi um processo muito utilizado pelo Padre António Vieira: “Dizei-me (que o não quero perguntar a outrem): qual foi a razão da parte de Deus e qual a causa da parte nossa, por que nos tirou o mesmo Deus o rei e a liberdade e nos teve activos sessenta anos? Todos dizemos e confessamos que pelos pecados de Portugal. Pois se Portugal se tem emendado tão pouco, como vemos; se os pecadores são hoje os mesmo e pode ser que maiores que dantes, como queremos que nos favoreça hoje Deus pelas mesmas culpas por que ontem nos castigava? Cuidamos que a justiça divina não tem mais do que um castigo?” (Sermão pelo Bom Sucesso das Nossas Armas, Obras Escolhidas, vol. X, 2ª ed., Liv. Sá da Costa, Lisboa, 1996, pp.256-257).