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O diálogo é uma forma de discurso e modo de expressão literária em que dois interlocutores (o “eu” e o “tu”) se alternam reversivelmente, interagindo na comunicação, discussão e troca de ideias, informações, sentimentos, pensamentos e atitudes. O diálogo constitui-se, assim, como o cânone da interacção verbal cuja origem remonta aos primórdios da Humanidade quando o homem começou a sentir a necessidade de comunicar. Para Benveniste, o diálogo consiste na enunciação de um determinado “quadro figurativo” entre duas instâncias, locutor e alocutário.

O intercâmbio discursivo que o diálogo apresenta pode surgir na narrativa, na poesia lírica e domina o desenvolvimento do drama no teatro. Enquanto que na narrativa e na poesia, a figura do narrador emerge como organizador/mediador óbvio do diálogo, o drama constitui-se como uma reprodução fiel do intercâmbio dialógico das personagens, o que implica a ocorrência de discurso directo ou citado na cena (tentativa de imitação ou aproximação discursiva máxima à duração real da situação narrada) e o apagamento (parcial porque o narrador continua a gerir e organizar toda a matéria diegética) do narrador, permitindo maior proeminência às próprias personagens. A reflexão sobre a dramatização do diálogo coloca diversas questões teóricas relacionadas com a oposição entre “mimesis” e “diegesis” (formulada no âmbito da discussão platónica) e com a distinção entre “telling” e “showing” (equacionada por H. James e P. Lubbock). A representação dramática assiste, de certa forma, à transformação das personagens da narrativa em actores, dinamizando a transição do plano da “diegesis” para o da “mimesis” (na teorização platónica) ou a passagem do “telling” ao “showing” (segundo o quadro teórico de H. James e P. Lubbock).

A inserção do discurso directo que constrói o diálogo é processada no texto através de verbos declarativos e surge no texto assinalada com dois pontos, travessão ou aspas. Existem, contudo, diversas formas de introdução do diálogo na narrativa: José Saramago, por exemplo, utiliza o diálogo de forma original sem recorrer a estas formas de sinalização gráfica, optando por fundir o discurso das suas personagens com comentários seus de teor metaliterário, crítico, político, social, ideológico, filosófico, etc.

bibliografia

E. Benveniste: Problèmes de linguistique générale, vol. 2 (Paris, 1974); M. Berendsen: “The Teller and the Observer: Narration and Focalization in Narrative texts”, Style, 18, 2; P. Lubbock: The Craft of Fiction (1939).