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Desafinação de sons entre palavras no mesmo contexto. Em poesia, diz-se da desafinação musical entre versos ou palavras em posição de rima. Este fenómeno pode ser propositado, como acontece em muita poesia surrealista, por exemplo, ou em qualquer texto poético sem preocupações de marcação do ritmo de acordo com padrões pré-fixados. Os versos seguintes de Miguel Torga insistem em sons sibilantes, [s], [z] e [∫] ,que provocam uma dissonância que não tem necessariamente de jogar a favor ou contra o poema: “E nas minhas palavras vou sentindo / A dureza das pedras, / A frescura das fontes, / O perfume das flores. / Digo e tenho na voz / O mistério das coisas nomeadas.” (“A palavra”, in Diário X, 1968). Quando o registo da dissonância se integra na estratégia rítmica do poema, pode funcionar como marca de estilo, ou como simples artifício poético, contudo, muitos puristas entendem que se trata de falta de rigor ou de arte.

bibliografia

Beatrice Didier: “La Reflexion sur la dissonance chez les écrivains du XVIIIe siècle: D’Alembert, Diderot, Rousseau”, Révue des Sciences Humaines, 76, 205 (França, 1987); Elizabeth Sauer:  Barbarous Dissonance and Images of Voice in Milton’s Epics (1996); Eugenia DeLamotte: “Dissonance and Resolution in Four Quartets”, Modern Language quarterly: A Journal of Literary History, 49, 4 (1988); Irving Massey: “Words and Images: Harmony and Dissonance”, The Georgia Review, 34 (1980).