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O termo aparece pela primeira vez no séc. XIX, para designar algo de novo: não a mera e atemporal atracção pelo Belo, mas uma nova convicção acerca da importância da beleza e da arte, em confronto com outros valores, designadamente os que se associam à esfera ético-moral. Nesta acepção, o Esteticismo é uma atitude emergente em França e em Inglaterra a partir da década de 1860, representando a configuração de uma mundividência centralizada na sobrevalorização da categoria do Belo.

A primeira manifestação da tendência esteticista ocorrera já no domínio da própria arte, traduzindo-se na reinvindicação da sua autonomia face a critérios valorativos de carácter exógeno (v. arte pela arte). Logo, porém, a atitude esteticista se alastra pela visão que o homem tem de si próprio enquanto produtor de valores pelos quais rege a sua conduta. Não apenas na arte mas também na própria vida, o sentimento do Belo passa a ser, para alguns, o valor mais elevado, já que permite viver acima da vulgaridade do homem comum.

A atitude esteticista filosofia de vida, embora mantendo uma forte relação de dívida face à teoria da Arte pela Arte, emerge, nalguns casos, à margem da mesma. É o que acontece em Inglaterra com John Ruskin e William Morris, duas figuras ligadas ao Esteticismo, mas que se opõem à ideia da total autonomia da arte. John Ruskin, professor de arte na Universidade de Oxford, exerce uma influência marcante na geração dos estudantes ingleses de entre os quais emergem os Estetas da década de 1880. Passível de ser definido como um Esteta, ele é-o numa acepção bastante lata do termo, e apenas enquanto apóstolo da importância da arte e da beleza numa sociedade industrializada em que a fealdade se insinuara no quotidiano do cidadão comum. Na verdade, ao ser confrontado com o dilema que a arte enfrenta em meados do séc. XIX – ou um comprometimento com a realidade circundante ou uma completa emancipação como fenómeno estético – Ruskin aponta para uma solução de compromisso.

Mas ele não está só nesta tomada de posição. O seu discípulo William Morris, que na juventude fora um dos mais destacados membros da Pre-Raphaelite Brotherhood, perfilha muitas das suas ideias, nomeadamente a profunda aversão por uma sociedade mecanizada, em que o mau gosto impera. Embora sem ligação directa com o Esteticismo, um outro contemporâneo de Ruskin e de Morris contribui também para o aparecimento da geração dos Estetas. Mathew Arnold, em especial com a obra Culture and Anarchy (1869), cimenta um espírito de revolta contra o moralismo e o materialismo da época que, em seu entender, constituem sérios entraves à verdadeira cultura.

É justamente contra o “filistinismo” da burguesia, tão acerbamente criticado por Arnold, que os Estetas se insurgem daí em diante, designadamente aquele que inaugura um Esteticismo já plenamente definido e assumido: Wlater Peter. Sendo, tal como Ruskin, professor da Universidade de Oxford, Pater deixa oseu estigma indelevelmente marcado em muitos dos seus alunos, que encaram a sua primeira obra (Studies in the History of the Renaissance (1873), como uma verdadeira “bíblia”. Com Pater, o que fora um código estritamente literário transforma-se numa nova filosofia de vida, lapidamente condensada nas frases com que enceta a conclusão desta sua obra: “Not the fruit of experience but experience itself is the end … To burn always with this hard gem-like flame, to maintain this ecstasy, is sucess in life. Failure is to from habits …” (Ian Small (ed.): The Aesthetes, p. 20). Privilegiando, de entre as paixões humanas, a paixão estética, Pater dá o passo decisivo para a transição da teoria da Arte pela Arte para uma filosofia de vida que a coloca no centro da experiência humana. Assumindo-se como discípulo de Epicuro, Pater repudiará porém, e com crescente firmeza, o hedonismo amoral dos novos Estetas da década de 1880.

De entre estes, dois se irão destacar sobremaneira: James Whistler e Oscar Wilde. Embora as relações de Whistler com o Esteticismo sejam ambíguas, ele viria a ser encarado pelos seus contemporâneos como um expoente do mesmo. Na verdade, os objectivos que defende em The Gentle Art of Making Enemies (1890), estão mais directamente relacionados com o Impressionismo, que na pintura tem em Whistler um dos primeiros representantes. Por outro lado, o culto do artificialismo que o torna publicamente conhecido vem ao encontro de uma das mais relevantes facetas do Esteticismo tal como é desenvolvida por Oscar Wilde, a figura mais famosa do movimento na década de 1880.

É como poeta e professor de Estética que Wilde começa a angariar notoriedade na sociedade londrina depois de terminar os estudos em Oxford, onde foi discípulo de Ruskin e de Pater. nesta primeira fase, é como símbolo vivo do Esteticismo, como cultor do artificialismo e do dandismo (v.) que ele sai do anonimato, passando a figurar como alvo preferido das sátiras espalhadas pelos jornais e revistas da época. As suas posses e vestuário são caricaturadas por George du Maurier na revista Puch, e Gilbert e Sullivan ao elaborarem a ópera satírica Patience (1881) tomam-no como principal fonte de inspiração para criarem a figura de Bunthorne, o Esteta. Os Estetas em geral e Oscar Wilde em particular, ansiosos por transcender a cultura e a moral burguesas, encontram resposta para os seus anseios numa certa forma de elitismo urbano de tendências pró-aristocráticas, traduzido numa comunhão de gosto pelo artifical e pelo exótico. O fascínio que a cultura francesa neles desperta aponta, por outro lado, para a influência determinante que autores como Baudelaire e Huysmans exerceram na configuração do Esteticismo.

{bibliografia}

Charles Ryskamp, Wilde and the Nineties, 1966; Edward Alexander, Matthew Arnold, John Ruskin and the Modern Temper, 1973; Etienne Souriar, Chaves da Estética, 1973; Holbrook Jackson, The Eighteen Nineties, 1976; Ian Small, The Aesthetes, 1979; R. V. Johnson, Aestheticism, 1969.