Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

A fraseologia situa-se no campo dos estudos do léxico, sendo considerada uma subdisciplina da lexicologia. Ocupa-se das combinações estáveis de unidades léxicas, constituídas por mais de duas palavras gráficas. O seu limite superior é a frase.

As unidades fraseológicas ou expressões fixas caracterizam-se pela polilexicalidade. Com uma variação gradativa, apresentam também as seguintes características: elevada frequência, institucionalização decorrente da sua reprodução ou reutilização, cristalização morfológica e semântica, idiomaticidade e variação potenciais.

Podemos dividir o sistema fraseológico, tendo como suporte teórico a fórmula proposta por Eugenio Coseriu “sistema-norma-fala”, em três grandes áreas : Locuções, colocações e enunciados fraseológicos, estes últimos subdivididos em parémias e fórmulas de rotina. Por sua vez, dentro de cada área, as unidades fraseológicas agrupam-se de acordo com a sua categoria gramatical, a função sintáctica, o grau de mobilidade ou independência textual, etc. Exemplos : 1) Locuções : Loc. Prepositivas – em vez de, loc. adjectiva – duro de roer 2) Colocações : Verbo (V) + Nome (N) (função sujeito) – deflagrar um incêndio, correr um boato, V + Preposição (Prep) + N (função objecto) – entrar em conflito, pôr em funcionamento, Advérbio (Adv) + Adjectivo (Adj.)- diametralmente oposto, Adj + N – grandes superfícies, etc. 3 ) Enunciados fraseológicos : a) Parémias – O cão é o melhor amigo do homem; Mais vale um pássaro na mão que dois a voar; As paredes têm ouvidos; b) Fórmulas de rotina – Olá, tudo bem?; Peço imensa desculpa.; Como vai a sua saúde?; Desejo-lhe rápidas melhoras.; Com os melhores cumprimentos.

Como disciplina científica, a fraseologia conheceu grande desenvolvimento nos anos cinquenta, especialmente na antiga URSS com os trabalhos de V. Vinogradov . Nas últimas décadas têm-se publicado interessantes estudos teóricos na Alemanha e em Espanha. O pouco que há sobre a língua portuguesa, enquanto estudo sistemático e objectivo da nossa fraseologia, fica a dever-se a autores de língua alemã (V. bibliografia).

Tal como acontece com outros termos, não há consenso geral quanto ao âmbito de estudo da fraseologia, e várias outras definições, divergentes da que aqui apresentamos, podem ser encontradas em obras contemporâneas. Igual raciocínio se aplica aos diferentes tipos de unidades cujo estudo está cometido à fraseologia. Num breve excurso poderemos encontrar, a par de unidades fraseológicas ou expressões fixas, expressões/ unidades pluriverbais, fraseologismos, lexias compostas, sintemas, frasemas, etc. Nas línguas que nos são mais familiares são usados os seguintes termos: inglês: multiword lexical unit, multiword lexeme, set phrase, set expression, fixed expression; em francês: phrase figée, synthème, cristalisation, lexie, synapsie, discours répété; em alemão: Fixiertes Wortgefüge, Phraseologische Einheit, Phraseologismus, Phraseolexeme; em espanhol: unidad pluriverbal lexicalizada y habitualizada, expresión fija, unidad fraseológica o fraseologismo.

Os avanços no domínio da investigação fraseológica serão de enorme utilidade no ensino de português como língua materna e em especial não-materna. Contribuirão ainda para uma feitura de dicionários da língua portuguesa mais cuidada e consentânea com a realidade da língua.

{bibliografia}

Burger, H., Buhofer, A., Sialm, A., 1982, Handbuch der Phraseologie, Berlin/New York, Waltwer de Gruyter; Corpas Pastor, G., Manual de Fraseología Española, 1996, Madrid, Gredos; Fiala, P., Lafon, P., Piguet, M.-F. (eds.), 1997, La Locution : Entre Lexique, Syntaxe et Pragmatique, Paris, INALF / Klincksieck; Funk, Mª Gabriela, 1993, A Função do Provérbio em Português e em Alemão, Ponta Delgada, Universidade dos Açores (tese de doutoramento); Gréciano, G. (ed.), 1989, Europhras 88 – Phraséologie Contrastive- Actes, Strasbourg, Université des Sciences Humaines; Hundt, C., 1994, Untersuchungen zur portugiesischen Phraseologie, Wilhelmsfeld, Gottfried Egert Verlag; Lapa, M. Rodrigues, 1979, Estilística da Língua Portuguesa, 10ª ed., Coimbra Editora; Lopes, A. Macário, 1992, Texto Proverbial Português, Coimbra, Faculdade de Letras (tese de doutoramento); Machado, José P. 1996, Dicionário de Provérbios, Lisboa, Editorial Notícias; Marçalo, Mª João, 1994, “Synthèmes dans la presse portugaise”, La Linguistique, Vol. 30 /1, Paris, P.U.F., p. 79-83; Martins-Baltar, M. (org.), 1995, La locution en discours – Chiers du français Contemporain, vol. 2, Paris, Didier-Érudition, Nascentes, Antenor, 1986, Tesouro da Fraseologia Brasileira, 3ªed., Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira; Pratt, Óscar, 1914, Locuções Petrificadas- Conjecturas e Apontamentos para o estudo da Fraseologia Portuguesa, Esposende, Tipografia Esposendense, Separata do vol. XXI da Revista do Minho; Scheman, H. e Schemann-Dias, s/d., Dicionário Idiomático português-alemão, Braga, Livraria Cruz/Max Hueber Verlag; Thun, Harald, 1978, Probleme der Phraseologie, Tübingen, Max Niemeyer Verlag, Zuluaga, A., 1980, Introducción al Estudio de las Expresiones Fijas, Frankfurt a.M./ Bern / Cirencester-U.K., Verlag Peter D. Lang.