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No quadro dos estudos no formalismo russo, Iuri Tinianov trabalha sobre a evolução literária, onde, tomando a obra e a própria literatura como um sistema, propõe que entendamos o dinamismo histórico da literatura como uma substituição de sistemas. Sistema e função são dois conceitos centrais na teoria formalista deste teórico: sistema é o conjunto de entidades organizadas, mantendo entre si relações de interdependência e que são ordenadas para obter uma finalidade; num sistema, cada elemento desempenha a sua função. Função é a possibilidade de um elemento entrar em correlação com os outros elementos de um mesmo sistema e, por conseguinte, com o sistema inteiro. Viktor Sklovskij exemplificou esta distinção com o sistema de eavesdropping que ocorre em várias obras de Charles Dickens com diferentes funções. Os conceitos de sistema e de função estão intimamente relacionados com outro conceito fundamental da poética formalista, a desfamiliarização: um sistema pode desempenhar uma função de desfamiliarização num dado instante, mas a partir do momento em que se torna familiar aos leitores perde esta qualidade. Dentro do formalismo russo, destaca-se ainda a proposta morfológica de Propp, aplicada ao conto maravilhoso, onde identifica um conjunto de trinta e uma funções narrativas. Estas são determinadas pela acção que as personagens realizam no desenvolvimento de uma intriga.

Claude Bremond desenvolveu e aperfeiçou o sistema morfológico de Propp, propondo que as funções narrativas se agrupassem em conjuntos de três, formando sequências. Roland Barthes traz uma nova proposta, imaginando a narrativa como uma grande frase que suporta funções distribucionais (unidades que funcionam ao mesmo nível) e funções integrativas (unidades que funcionam sempre num nível superior). No primeiro caso, exemplifica-se com as funções cardinais, isto é, aqueles acontecimentos nucleares de uma narrativa que a fazem efectivamente avançar; no segundo caso, ocorrem momentos de pausa, que tomam o nome de catálises. Jonathan Culler (1975, p.202) argumentou que o uso que Barthes faz do termo função não é muito feliz, tendo sido preferível a adopção do termo lexia, que encontramos em S/Z (1970). Uma lexia é aqui tomada como uma unidade mínima de leitura, um passo do texto que pode ser isolado pelo leitor em comparação com outras partes do mesmo texto. Na semiótica greimasiana, a função narrativa está ligada à actuação de actantes, de acordo com um modelo complexo de relações cognitivas e performativas.

{bibliografia}

C. Bremond: Logique du récit (1973); Claude Chabrol et alii (eds.) : Semiótica Narrativa Textual (1977); Iuri Tinianov et al.: “Formalist Theory”, in Russian Poetics in Translation, nº4 (1977); Jonathan Culler: Structuralist Poetics: Structuralism, Linguistics and the Study of Literature (1975); Roland Barthes: “Introduction à analyse structurale des récits”, Communications, nº8 (1966); Viktor Sklovskij: The Mystery Novel: Dickens’s «Little Dorit», 1925, in Readings in Russian Poetics: Formalist and Structuralist Views, ed. por Ladislav Matejka e Krystyna Pomorska (1971).