Comentário explicativo de um texto bíblico que o ministro da comunidade cristã conjuga com conselhos e exortações dirigidos aos membros da assembleia. Assim, a homilia é um texto de carácter pedagógico e edificante, pois tem como objectivo fornecer uma orientação a nível moral e religioso, sendo para os fiéis “(…) una luz de fe y un pan de vida” (Elie Fournier, La Homilia, 1965).
A origem etimológica do termo “homilia” aponta para esse cariz pedagógico: em grego, “homilia” significa “lições do professor”. Também do étimo se retira outra característica da homilia: o facto de se tratar de um texto destinado a ser proferido diante de uma assembleia pequena, pois um dos sentidos que a palavra tinha era o de “conversa familiar” tida no seio de um ambiente de intimidade – tal é o que acontece aquando da celebração da eucaristia.
A homilia distingue-se do sermão, outras das modalidades da homilética (método, ciência teológica da Palavra de Deus), em parte, devido ao facto de este ser um discurso retórico próprio para ser dito em praça pública, dirigindo-se a uma audiência mais vasta.
Durante a preparação da prédica homilética, o ministro da comunidade tem de ter em conta três aspectos: a leitura da Bíblia, a inserção dos passos lidos em contexto litúrgico e a relação dos assuntos tratados no âmbito bíblico com a realidade social do seu tempo e da sua comunidade. Nesta última fase, aplica-se a palavra das Escrituras à vida quotidiana, para daí se estrairem ensinamentos, sugestões de reflexão, normas de conduta, através dos quais se procede à contínua catequização dos ouvintes.
A homilia constrói-se segundo uma estrutura tripartida, sendo formada por uma introdução, na qual se expõe o tema a tratar; o tema vai ser desenvolvido numa segunda parte, em que se faz uma leitura hermenêutica dos passos bíblicos e a sua exegese, concluindo-se em seguida, sempre com a preocupação de ligar a Escritura com a vida prática. Tomemos como exemplo uma homilia retirada do livro Selecciones Actuales de Predicación Homilética, a qual foi proferida no primeiro domingo após a Páscoa. A homilia, como todas, tem um título:”Resurrección: prueba completa y detallada”. Aquela começa com a leitura de um passo do evangelho de S. João e, após a explicação do contexto em que ele surge (incredulidade dos apóstolos e sua necessidade de verem Cristo, de Lhe tocarem, para acreditaram que havia ressuscitado), segue-se a adaptação da mensagem do evangelho à vida, insistindo-
-se no cepticismo dos homens e na urgência de aprofundarem a fé, de modo a que Cristo esteja vivo entre eles.
A prédica homilética é parte integrante dos curricula dos cursos de Teologia, desde sempre, dada a importância-chave da homilia na formação dos cristãos e na Comunhão Anglicana, por exemplo, foram criados livros de homilias (homiliários) para serem usadas por aqueles que não tivessem capacidade de as criar.
Os temas das homilias acompanham o ciclo litúrgico anual, para além de outros que surgem nos domingos comuns, aqueles em que não se celebra nenhuma festa.
A linguagem a usar na homilia deve, segundo alguns, ser bíblica apenas, para que se mantenha a autencidade da mensagem a transmitir; outros, porém, preferem transformá-la, adaptá-la à realidade dos ouvintes, para que interiorizem de facto a mensagem. Assim, o pregador não adúltera a mensagem bíblica, apenas é um intérprete, um meio da sua veiculação, para que a homilia desempenhe “el papel del revelador fotográfico que hace aparecer una imagem invisible al ojo hasta aquel momento” (Elie Founier, 1965).
O objectivo de evangelizar está presente noutros contextos que não o litúrgico, na poesia, por exemplo, como se observa em John Donne (Divine Poems), nos quais alguém que se assume como pecador que encontrou a misericórdia se dirige aos outros pecadores, com fervor evangélico. Outros autores célebres de discursos edificantes são, a título de exemplo, Stº. Agostinho, S. Tomás de Aquino, Jonathan Swift, Jonathan Edwards, John Wesley, Philip Brooks e o Padre António Vieira.
Josemaria E. Balaguer, Cristo que passa, 1971; E. Fournier, La Homilia, 1965; Sandro Magglioni, La Predicación en la Vida de la Iglesia – Moral y Pastoral, 1966; Angel Saenz-Badillos, S. J. Natalio, F. S. Marcos, Selecciones actuales de Precación Homilética, 1967.
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