Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

1. Figura de retórica (do gr. metabolé, “mudança”) que, em sentido restrito, consiste na acumulação de palavras ou expressões de valor semântico próximo e que se registam de forma gradual num discurso, mas sem alterar a ideia central que se quer comunicar. No início do capítulo X, em A Cidade e as Serras, a gradação dos atributos escolhidos para descrever a mudança metereológica dá origem a uma notável metábole: “Numa dessas manhãs – justamente na véspera do meu regresso a Guiães, – o tempo, que andara pela serra tão alegre, num inalterado riso de luz rutilante, todo vestido de azul e ouro, fazendo poeira pelos caminhos, e alegrando toda a Natureza, desde os pássaros aos regatos, subitamente, com uma daquelas mudanças que tornam o seu temperamento tão semelhante ao do homem, apareceu triste, carrancudo, todo embrulhado no seu manto cinzento, com uma tristeza tão pesada e contagiosa que toda a serra entristeceu. E não houve mais pássaro que cantasse, e os arroios fugiram para debaixo das ervas, com um lento murmúrio de choro.” (A Cidade e as Serras, Edição «Livros do Brasil», Lisboa [s/d] /1969). A metábole distingue-se da sinonímia por não estabelecer relações semânticas entre palavras isoladas e descontextualizadas, mas relações semânticas entre termos equivalentes num mesmo contexto. Não se deve confundir com a redundância, que é um defeito de linguagem, porque envolve uma intenção premeditada de produção de um efeito retórico específico. As diferentes mudanças ou variações de código linguístico numa mesma ocorrência pode tomar diferentes designações, se se tratar de uma mudança fono-morfológica (metaplasmo), sintáctica (metataxis), semântica (metasemema) ou lógica (metalogismo). Nesta acepção, qualquer figura de retórica pressupõe o uso de uma mudança do registo referencial da língua, logo a metábole pode significar o processo de construção típica de uma figura de estilo que procura um registo semântico novo para a língua.

 

2. O termo também se usa modernamente no teatro para traduzir aqueles momentos de reconhecimento de um destino inesperado de um protagonista ou mudanças bruscas no enredo de um texto teatral.