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Etimologicamente, uma micronarrativa é uma pequena narrativa (uma anedota ou um romance tradicional, por exemplo), mas não devemos limitar o conceito à sinonímia de “pequeno texto narrativo”. Micronarrativa é o oposto de metanarrativa, no sentido em que Lyotard discute a formulação da condição pós-moderna. As metanarrativas da Ciência comportam visões totalitárias do mundo, supostamente possuindo todas as verdades possíveis e experimentadas sobre o conhecimento. Para uma doença, a Ciência dirá que possui todas as respostas conhecidas (totalidade a que chamamos metanarrativa); se uma comunidade local possuir uma resposta simples para essa doença (unidade a que chamamos micronarrativa), não estaremos a pressupor que a verdade foi definitivamente alcançada. Lyotard defende a “incredulidade” nas metanarrativas (humanismo, iluminismo, modernismo, etc.,) como o fundamento do pensamento pós-moderno; as pequenas narrativas não exigem o controlo total do conhecimento, são fragmentos em todos os domínios científicos e dificilmente podem apontar para uma única linguagem universal capaz de explicar todos os fenómenos. A sobrevivência da multiplicidade de jogos de linguagem diferentes e incompatíveis das micronarativas, contrariando o domínio das metanarrativas centralizadoras, não só recuperou o diálogo necessário entre os saberes como contribuiu para o abandono dos grandes modelos de análise (como o estruturalismo, por exemplo).

{bibliografia}

Jean-François Lyotard: A Condição Pós-Moderna (2ª ed., Lisboa, 1989); Id.: O Pós-Moderno Explicado às Crianças (Lisboa, 1987).