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Termo que designa: 1. a mais significativa forma de drama sacro na Idade Média 2. um tipo de ficção. 1. O mistério medieval consistia na representação, sob forma de espectáculo teatral, de histórias e episódios da vida de Cristo, baseados fundamentalmente no Novo Testamento e nas tradições e lendas com este associadas, bem como nas partes do Antigo Testamento que, de alguma forma, eram consideradas prefigurações daquele.

A sua origem histórica é um pouco difusa, mas terá seguramente nascido das representações litúrgicas do Natal e da Páscoa e da poesia narrativa dos goliardos, com o fim de evangelizar uma população iletrada e sem acesso à palavra de Deus.

Este termo terá sido utilizado pela primeira vez em 1402 numa carta régia de Carlos VI de França, dando à Confraria da Paixão, uma irmandade religiosa, o seu aval para apresentar dramas deste género.

Este tipo de representações terá surgido como evolução dos milagres de santos e dramas da Paixão de Cristo, muito em voga nos sécs. XIII e XIV.

Como autores mais representativos deste género dramático destacam-se Eustache Macardé e a sua Paixão d’Arras, de 1420, Arnould e Simon Gréban, de Mons, e as suas paixões de 1450, e, finalmente, um médico de Angers, Jean Michel, com uma adaptação feita das anteriores em 1486, num texto de 45.000 versos, que levaria dez dias a representar, contendo já quadras verdadeiramente profanas.

Nestas peças, os elementos espectaculares dominam sempre os elementos literários e o estilo dramático. A sua representação tinha lugar em frente à igreja, nas cidades mais pequenas e nas localidades mais pobres, sendo consequentemente uma composição dramática simples e até ingénua. Nas grandes e ricas cidades, estas realizavam-se em frente à catedral, agrupando todas as classes da sociedade em plena comunhão. Assumia também um carácter grandioso com uma construção de madeira, composta por grandes degraus e por galerias de camarotes enfeitados, onde dezenas de espectadores assistiam ao decorrer da acção, chegando  alguns a assistirem de pé. Na frente havia um palco largo e pouco fundo, podendo ver-se os vários compartimentos providos de cenários, chamados mansions, onde os actores representavam peça. As mansions eram geralmente dez, chegando a vinte, e até mesmo a setenta, como no caso de um mistério representado em Mons, em 1501. Estas divisórias eram sempre enquadradas nas extremidades por um cenário do Paraíso e por um cenário do Inferno. O primeiro era florido e encantador e o segundo ameaçador e grotesco. Geralmente o Inferno era o mais popular, pois as diabruras constituíam a grande atracção e prestavam-se a todo o género de divertimentos.

Um destes compartimentos, o tabor, encontrava-se provido de maquinaria destinada a figurar na Tranfiguração, representando o mar e um barco com os seus remadores. Mensageiros divinos cruzavam os céus e via-se jorrar sangue de Abel e a cabeça de S. João Baptista a separar-se do corpo.

As representações chegavam a durar uma semana ou mais, e nelas participavam cerca de cento e cinquenta actores, sem contar com os figurantes. Estas exigiam mesmo a colaboração de pintores e carpinteiros, que eram encarregados não só de fabricar os cenários, mas também, muitas vezes, de adaptar o guarda-roupa confeccionado propositadamente para a representação ou emprestado pelo clero. O anúncio do espectáculo revestia-se de grande aparato, com a distribuição de programas luxuosamente impressos com várias informações, indo desde o assunto da peça até ao guarda-roupa usado pelos actores.

O séc. XV marcou o apogeu desta forma dramática, permanecendo no gosto popular até meados do século seguinte, altura em que a sua evolução para o burlesco e para a obscenidade atinge uma tal repercussão, que levaria a Igreja a proibi-la em 1548. Contudo, tal não significou o fim dos mistérios, que fazem hoje parte das tradições do povo e continuam a ser representados nos meios rurais da Alemanha, da Espanha e da Itália.

2. Termo que designa um tipo de ficção com vários subgéneros, que vão desde o romance policial até ao romance gótico.

Todos estes tipos de ficção abordam um crime e a sua resolução. O suspense geralmente está presente no caminho para a solução, que coloca em perigo o detective ou os que perseguem o vilão, colocando vítimas inocentes em perigo.

As fronteiras do moral e do imoral, da ordem e da anarquia, com as quais se ocupam as histórias de mistério, podem encontrar-se nas tragédias clássicas e no teatro shakespeariano, notavelmente obcecado com o crime terrível e a psicologia criminal.

As histórias de mistério incluem também histórias de espionagem, tais como The thirty-nine Steps de John Buchan (1875 – 1940), as obras de Ian Fleming (1908 – 1964), que criou o agente secreto James Bond, e os romances de intrigas complexas de John Le Carré (pseudónimo de David John Cornwell, 1931 –     ).

Outro subgénero é o romance de aventuras, como as obras The Wreck of the Mary Deare e Atlantic Fury do escritor inglês Hammond Innes (1913 – 1998). Um outro tipo de histórias de mistério é o que trata acontecimentos inexplicáveis, variante do romance gótico, sendo o seu mais famoso expoente o autor Edgar Allen Poe (1809-1849), com The Mystery of Marie Rogêt, baseado num crime por solucionar de uma mulher, perto de Hoboken, New Jersey.

 

{bibliografia}

1 H. Howens Post: As Obras de Gil Vicente Como Elo de Transição Entre o Drama Medieval e o Teatro do Renascimento (1975); Hardin Craig: English Religious Drama of the Middle Ages (1955); Jacques Burdick: Teatro (Lisboa, 1978); Léon Moussiniac: História do Teatro: Das Origens aos Nossos Dias (Lisboa, s.d.); Luiz Francisco Rebello: O Primitivo Teatro Português (1984); Marvin Carlson: Teorias do Teatro: Estudo Histórico-Crítico dos Gregos à Actualidade (S. Paulo, 1995); Patrice Pavis: Dicionário de Teatro (S. Paulo, 1999); Robert Pignarre: História do Teatro (Mem Martins, 1979).

http://www.newadvent.org/cathen/10348a.htm

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http://www.themysteryreader.com/