Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

É a classificação que se dá a certo género de peças, em que o autor critica os costumes de um país ou de uma localidade, ou então faz passar à vista do espectador acontecimentos como revoluções, grandes inventos, modas, acontecimentos artísticos ou literários, espectáculos, crimes, desgraças, divertimentos, feitos e sucessos nacionais e dos seus protagonistas.

O teatro de revista surge no âmbito do teatro musicado que, firmando-se no nosso país alcançou grande popularidade.

Em Portugal, há grande predilecção pelo teatro de revista, sendo vasto o público que acorre a este género pelo gosto de assistir a factos e situações da actualidade misturados com comentários cáusticos e picantes à base de trocadilhos.

Torna-se difícil saber com exactidão quando chegou a Lisboa, que sendo então já a “ velha criada do abade que se arrebica à francesa”, de que nos fala Eça, acolheu mais este parisianismo de braços abertos, como era de esperar.

Trata-se de um espectáculo onde o público se pode rir até fartar dos grandes do mundo e até de si próprio. Os problemas que o afligiam no quotidiano, postos num palco de uma revista, puxavam gargalhada rija.

A censura, a maior inimiga da revista, que sempre a espreitou ameaçadora e colocava-lhe triunfante a rolha na boca. Contudo o que se dava a menos em política dava-se a mais em brejeirice e pernas de coristas.

Mesmo com o grande entusiasmo do público pela revista, para a censura esta era uma injúria que nunca foi tolerada. Joaquim Madureira, que sob o pseudónimo de Brás Burity, um dos mais incisivos exigentes críticos teatrais, comentava assim este triste panorama “A Revista é uma sensaboria com vários actos e muitos quadros, que não desmoraliza porque adormece, não faz corar porque faz dormir e que não chega a entreter a vista porque, às duas por três, está-se a olhar para dentro, quando, estremunhado se esfrega os olhos, estrelas e coristas são tão feias, que, melhor fora, esfregassem chãos”.

Segundo os puristas da crítica literária trata-se de um género menor, mas que detém grande valor como documento sociológico.

O carácter unitário da revista portuguesa é dado pelo compére, que assegurando a ligação entre vários quadros, integra personagens simbólicas, figuras públicas, atracções musicais, as quais permitem a exposição em palco.

Momentaneamente derrotada, a revista esteve longe de se dar por vencida. Como não a deixavam falar abertamente iria procurar sinais, usar metáforas, criar uma cumplicidade que envolvia actor e espectador. Depois, recorria à cenografia, à música, à fantasia onde ia buscar as mágicas, e o espectáculo embora amordaçado, triunfava pelo seu engenho reforçando uma aliança com o público que não deixava de acorrer.

Viam-se no teatro de revista em cena pessoas régias políticos e banqueiros, ora Calipso e Ulisses, ora as quatro estações, ora os temperos mais picantes, personificados pelas actrizes mais apetitosas.

Seria Festejo dum Noivado, cuja autoria pertenceu a Braz Martins, que no ano de 1852 subiu à cena do Teatro do Ginásio, a primeira revista portuguesa. Entre 1854 e 1870, sucederam-se inúmeras peças deste género que se representaram nos vários teatros de Lisboa. Contudo, três merecem referência especial: Fossilismo e Progresso, de Manuel Roussado (1856), A Revista de 1858, de Joaquim António de Oliveira, por Jorge Faria considerada a «revista-mãe» e Os Melhoramentos Materiais, de Andrade Ferreira (1860).

O fim deste género estaria destinado a acontecer pela simples sobreposição da fantasia sobre o comentário social e político, a insinuação pornográfica vai ocupar o lugar da intervenção crítica, os valores espectaculares elevam-se aos literários e o fio condutor de uma possível intriga esvanece-se.

Sobre o teatro de revista, sobretudo de carácter lisboeta, fica a célebre frase do revisteiro André Brun: «Tirem tudo ao alfacinha, mas não lhe tirem a revista».

{bibliografia}

António de Sousa Bastos, Dicionário de Teatro, (1908); Luiz Francisco Rebello O Teatro Naturalista e Neo Romântico (1870-1910), Vol.16, (1978); Joaquim Madureira, Impressões de Teatro, (1904) Vitor Pavão dos Santos, A Revista à Portuguesa: uma História Breve do Teatro de Revista, (1978).

http://www.dionisius.hpg.ig.com.br/t_reve.htm