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Defeito de expressão escrita ou oral que consiste na falta de naturalidade e sobriedade da linguagem e do estilo. A afectação é uma marca estilística de valor negativo por traduzir o excesso de verborreia, de artificialismo, de combinação exagerada de figuras de estilo, de saturação do discurso com latinismos e helenismos, de obscuridades lexicais e semânticas. Grande parte da poesia lírica barroca foi acusada de afectação, precisamente porque explorou todos os desvios possíveis da linguagem do quotidiano, repudiando-a, procurou as construções sintácticas mais complexas e o vocabulário mais exótico e obscuro. O código retórico clássico considerava a organização do discurso segundo um esquema rígido, do qual a afectação barroca apenas considera a elocutio. A sumptuosidade verbal que o poeta barroco procura conduz a versos afectados como estes de Jerónimo Baía: ““unca já mais entre águas, luzes, flores, / Nacar terso, Abril doce, noite bela, / Com tantos preços, galas, resplendores; / Fechou pedra, abriu rosa, expôs estrela, / Raios, riquezas, cores / Perde esta, perde estoutra, perde aquela, / Pois na luz, jóia, e flor da mais rainha, / O Céu vê, cerca o mar, e a terra goza/ (…)” (Fénix Renascida, III, p.40). Luís António Verney não perdoou esta estilização barroca, até na oratória, porque os pregadores portugueses “enchem o discurso de mil tropos e figuras for a do seu lugar, que mostram o pouco talento do Pregador e a ignorância da sua própria língua. (…) Não se acha mais que equívocos, palavras sem significado, pensamentos inverosímeis, encarecimentos inauditos, em uma palavra, uma língua nova, que serve para toda a sorte de assunbtos, sem distinção.” (Verdadeiro Método de Estudar, vol.II, Liv. Sá da Costa, Lisboa, 1950, p.54).

 

Bibliografia:

 

José Ares Montes: Góngora y la poesía portuguesa del siglo XVII (1956); Maria de Lourdes Belchior Pontes: Frei António das Chagas. Um Homem e um Estilo do Séc.XVII (1950).