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Repetição de uma palavra(s) em posição final numa frase ou num verso no princípio da frase ou verso seguinte. Por exemplo, o seguinte poema de Manuel Bandeira, que abre e fecha com esta figura: "O córrego é o mesmo, / Mesma, aquela árvore, / A casa, o jardim. / Meus passos a esmo / (Os passos e o espírito) / Vão pelo passado, / Ai tão devastado, / Recolhendo triste / Tudo quanto existe / Ainda ali de mim / – Mim daqueles tempos!" ("Peregrinação", Obras Poéticas, Minerva, Lisboa, 1956). Trata-se de uma figura de retórica mais frequente em textos poéticos. O efeito de cascata pretendido é o de reforçar o valor semântico do termo repetido, que funciona como eco, fazendo recordar o processo medieval do leixa-pren. Foi bastante explorada pelos poetas barrocos, como no soneto de Gregório de Matos: “Contempla na borboleta exemplos do seu amor”: Tu a vida deixas, eu a morte imploro, / Nas constâncias iguais, iguais nas famas.” (Poetas do Período Barroco, apres. de Maria Lucília Gonçalves Pires, Comunicação, Lisboa, 1985, p.263). Como figura, a anadiplose apenas diz respeito à construção de um texto e não ao seu sistema de ideias, que dificilmente se altera com o seu uso.