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Instrumento crítico de prática analítica, de carácter poliédrico e interdisciplinar, cujo principal teorizador é Tomás Albaladejo. Privilegia o cruzamento e interacção entre os variados discursos, temas e saberes que favoreçam e enriqueçam a crítica, análise e teorização nos estudos literários e de cultura. Está sobretudo associado à literatura comparada, à poética e à retórica (sobretudo dos últimos estudos sobre retórica e neo-retórica, iniciados por Antonio García Berrio nos anos 80 e 90 do século XX).

É através da análise interdiscursiva, segundo Tomás Albaladejo (2008), que a retórica, a poética e a literatura comparada podem aglutinar-se para formar um estudo mais abrangente e minucioso. Partindo dos pressupostos da literatura comparada, como o campo de estudos que dá primazia aos elementos de alteridade, diferença e cultura nas obras literárias, este autor explicita o quão profícuo é o âmbito dos estudos literários comparados, por promover intersecções várias (Albaladejo, 2008: 255):

De este espacio más reciente forman parte los estudios que se ocupan de la relación entre Literatura y multiculturalidad, interculturalidad y transculturalidad, con los que están relacionados los estudios de Literaturas postcoloniales y de los elementos postcoloniales en las obras literarias, así como los estudios postestructuralistas, con perspectivas teórico-críticas concretas como las de la crítica política e ideológica, la crítica feminista, la crítica de Literaturas de minorías, etc., en el ámbito de los estudios culturales.

Ade ainda os estudos culturais comparados, os estudos interartísticos, e os estudos de Literatura digital como parte desse grande conjunto no qual estão fundados os princípios do comparatismo (Albaladejo, 2008: 255): “[…] la implicación en sus estudios de más de una lengua o de más de una Literatura y la inclusión del otro y, por tanto, de las perspectivas de la alteridad […]”.

Indica-nos este autor que os estudos literários comparados, por assumirem, na sua génese, a comparação como método de análise, podem (Albaladejo, 2008: 257): “[…] llevar a cabo una aportación fundamental al análisis y a la explicación de los discursos literários y no literários, contribuyendo así al conocimiento de las obras literarias y de la Literatura en general, de los procesos de producción y de interpretación, de la relación entre las obras y los contextos, etc.” É, portanto, neste sentido que importa abordar a ferramenta da análise interdiscursiva como “instrumental crítico de práctica analítica y de fundamentación teórica” (Albaladejo, 2008: 257). Não implica somente a comparação entre discursos ou o estudo analítico desses mesmos discursos, mas estabelecer relações entre diferentes tipos de discursos (Albaladejo, 2008: 257):

El análisis interdiscursivo permite comparar los discursos sobre la base de sus semejanzas y de sus diferencias, proyectando los rasgos de unas clases de discursos sobre otras con el fin de plantear las relaciones entre los mismos como un componente constitutivo de su realidad y presente en distintas clases de discursos.

Ou seja, a análise interdiscursiva traz à luz do comparatismo os outros discursos, além do literário: o discurso interartístico, o discurso histórico; ou tudo aquilo que possa ser chamado a entrar num estudo comparativo verdadeiramente abrangente do ponto de vista cultural, artístico, histórico, social e político. Assim, os estudos literários comparados, por possuírem, na sua génese, a comparação como metodologia de base, chamam todos os aspectos da cultura – a semelhante e a diferente, a que é considerada canónica e a periférica (entendidos no seu sentido lato, pois reconhecemos como estas nomenclaturas são perigosamente erróneas para o comparatismo, e reconhecemos, também, a importância da teoria dos polissistemas). Albaladejo refere-se, sempre, à poética como disciplina teórico-prática aliada aos estudos literários comparados no sentido de aplicar a análise interdiscursiva, mas podemos acrescentar que, também neste âmbito, entra a retórica. De facto, no mesmo artigo, este autor aponta que (Albaladejo, 2008: 260): “La Retórica, compañera de la Poética, con la que constituye el conjunto de las ciencias clásicas del discurso, es una disciplina clave para el análisis interdiscursivo. La Retórica tiene una fundamentación interdiscursiva por su origen, por su naturaleza y por su configuración”, e evidencia, linhas adiante, que “en todo discurso hay, de una u otra forma, de manera explícita o implícita, retórica.”

É a partir da retórica, e da sua revitalização no contexto do comparatismo e no âmbito dos estudos literários contemporâneos, que a análise interdiscursiva proporciona leituras analítico-críticas que de outra forma estariam ocultas se estivessem cingidas apenas aos estudos literários, isto é, à teoria da literatura ou ao estudo do texto a partir do texto – como a “leitura retórica” do desconstruccionismo advoga, por exemplo (Albaladejo, 2008: 258-259):

La aplicación de prácticas analíticas elaboradas y asentadas en determinadas clases discursivas a otras clases discursivas puede elucidar elementos y rasgos discursivos que permanecían ocultos a los métodos tradicionalmente empleados en el análisis de una clase concreta de discursos. Además, la reflexión teórica sobre una clase de discursos puede también proporcionar instrumentos para la explicación de otras clases de discursos, es decir, unas disciplinas pueden ofrecer a otras determinadas nociones, componentes e instrumentos que permitan adoptar nuevas perspectivas y, consiguientemente, nuevos planteamientos para la elucidación de las clases de discursos y de los propios discursos, en una renovación metodológica que puede ser sostenida por la cooperación interdisciplinar. Así, por ejemplo, aportaciones en el campo de la Ciencia Política, pueden contribuir a analizar y a explicar la representación literaria […].

             Uma nota de clarificação: entenda-se discurso no sentido mais amplo do termo, ou seja, como um conjunto de elementos e estruturas (de ordem linguística, narrativa, artística, visual) de natureza comunicativa (qualquer ela que seja: oral, escrita, visual ou performática) que visam transmitir uma mensagem ou mensagens, tal como Carlos Ceia explica, num verbete deste dicionário, e a lexicógrafa mexicana Helena Beristáin, no seu colossal Diccionario de Retórica y Poética nos indica, para o verbete de “Discurso linguístico” (1995 [1985]: 153).

Tomás Albaladejo explicita que, como ferramenta analítico-crítica, a análise interdiscursiva abrange três alíneas: os discursos propriamente ditos, as classes de discursos e as distintas disciplinas que (Albaladejo, 2008: 259): “[…] tienen relación con los discursos porque tratan de discursos o porque se sirven de ellos como instrumentos en su quehacer, así como de las estratégias analítico-explicativas asociadas a tales disciplinas – el Derecho, la Economía, la Historia, […] etc.” O objecto da análise interdiscursiva é, pois, a análise, exame e estudo analítico-crítico entre o que as disciplinas constituem como principais temas, abordagens e motivos e os discursos que se possam com estas relacionar. Utilizam-se, destarte, as ferramentas críticas e analíticas de determinadas disciplinas para que, dos discursos frutos dessa análise, se consigam compreender processos, conceitos e criar perspectivas válidas e representativas de uma outra forma de ler, comparar e analisar determinado discurso com ferramentas de outra disciplina (Albaladejo, 2008: 258-260). A análise interdiscursiva, como ferramenta analítica, permite que disciplinas de diferentes metodologias, objectos de estudo e paradigmas possam combinar-se, de forma interactiva e crítico-analítica, no sentido de amplificação do conhecimento e da ciência. No fundo, a análise interdiscursiva está a par do método comparatista, e por isso Albaladejo as relaciona desde o início do seu artigo. Esta ferramenta analítica determina-se (Albaladejo, 2008: 259): “[…] por una constante interacción teórico-explicativa y crítico-analítica, ya que todas las perspectivas y todos los planteamientos que intervienen en el mismo son a la vez instrumento y objeto de reflexión a partir del propio análisis y están abiertos a modificaciones desde los resultados del mismo.”

Explica ainda os três níveis de que esta ferramenta é composta: analítico-crítico, teórico e meta-analítico, e metateórico. Ao primeiro remete-se a relação crítica, de questionamento constante, entre as várias áreas que aglutina e sobrepõe com vista à análise que é elaborada. O segundo integra as teorias das ciências e da cultura como parte de um tronco comum, determinando quais podem ser utilizadas para a análise crítica que se pretende. O nível metateórico é o resultado desse questionamento crítico e do relacionamento teórico entre variados campos de estudo, dando especial atenção aos estudos literários comparados e de que forma pode a análise interdiscursiva ser utilizada como estratégia analítica (Albaladejo, 2012: 25):

El análisis interdiscursivo consta de tres niveles: 1) Un nivel analítico (analítico-explicativo), en el que se sitúan los análisis interdiscursivos de los discursos concretos y también de las clases de discursos no literarios y de los géneros literarios. 2) Un nivel metaanalítico, en el que están los análisis interdiscursivos de los instrumentos, planteamientos teórico-analíticos de las disciplinas que se ocupan del discurso, con el fin de determinar cuáles de aquéllos pueden ser intercambiados entre poética, retórica y otras disciplinas discursivas. 3) Un nivel metateórico, en el que se hallan las transferencias de instrumentos y planteamientos detectados en el nivel metaanalítico entre distintas disciplinas, con especial atención a la literatura comparada, a la que el análisis interdiscursivo puede ser incorporado como estrategia de análisis comparado y de explicación discursiva.

Intrinsecamente interdisciplinar, a análise interdiscursiva pretende responder aos desafios dos estudos literários, no sentido de transposição de fronteiras e multiplicação dos diálogos possíveis.

 

REFERÊNCIAS

Albaladejo, Tomás Mayordomo (1993). Retórica. Madrid: Editorial Síntesis.

Albaladejo, Tomás Mayordomo (1998). “Textualidad y comunicación: persistencia y renovación del sistema retórico (La rhetorica recepta como base de la retórica moderna)” em Retórica y texto. III Encuentro Interdisciplinar sobre Retórica, Texto y Comunicación, A. V. Antonio Ruiz Castellanos (ed.), pp. 3-14. Cádiz: Universidad de Cádiz.

Albaladejo, Tomás (2008). “Poética, Literatura Comparada y Análisis Interdiscursivo” em Acta Poética, Vol. 29, nº. 2, pp. 245-275. Obtido de <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3638837>, 11/01/2022.

Albaladejo, Tomás (2012). “Literatura comparada y clases de discursos. El análisis interdiscursivo: textos literarios y forales de Castilla y de Portugal” em XVIII Simposio de la SELGYC (Alicante 9-11 de septiembre 2010) = XVIII Simposi de la SELGYC (Alacant 9-11 setembre de 2010). Literatures ibèriques medievals comparades = Literaturas ibéricas medievales comparadas, pp. 15-38. Obtido de <http://www.cervantesvirtual.com/obra/literatura-comparada-y-clases-de-discursos-el-analisis-interdiscursivo–textos-literarios-y-forales-de-castilla-y-de-portugal/>, 11/01/2022.

Albaladejo, Tomás (2013). “Retórica cultural , lenguaje retórico y lenguaje literario” em Tonos digital: Revista de estudios filológicos, nº. 25, pp. 1-21. Obtido de <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4485697>, 11/01/2022.

Beristáin, Helena (1995 [1985]). Diccionario de Retórica y Poética. México: Editorial Porrúa. Obtido de <http://www.maraserrano.com/MS/articulos/Helena-Beristain.pdf>, 11/01/2022.

Ceia, Carlos (30 de Dezembro de 2009). “Discurso”. Obtido de E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia: <https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/discurso/>, 11/01/2022.

García Berrio, Antonio (1984). “Retórica como ciencia de la expresividad (presupuestos para una Retórica general)” em Estudios de Lingüística, vol. 2, pp. 7-59. Consultável em <https://rua.ua.es/dspace/bitstream/10045/6653/1/ELUA_02_01.pdf>, 11/01/2022.