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1. Termo proveniente da palavra grega antithesis e que a civilização latina adoptou com a grafia de antithese, designando oposição, contraste. Como figura de estilo, a antítese consiste na utilização de dois termos, na mesma frase, que contrastam entre si. Exemplo: “O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa, Mensagem, “Os Castelos”); “O esforço é grande e o homem é pequeno” (Fernando Pessoa).

Pretende-se com a antítese relacionar contrários a fim de se evidenciar o poder das duas partes ou das coisas em causa, confluindo numa ideia construída a partir de extremos. As duas partes em confronto assumem o relevo em virtude da sua junção, sem a qual perderiam todo o ênfase. Esta figura de estilo forma um paradoxismo, isto é, torna brusca e semanticamente compatíveis, num discurso contextualizado, dois termos à partida paradoxais. Como salienta Condillac, no livro L’Art d’Écrire “au lieu de mettre de l’opposition dans les mots, il faut quelquefois la laisser uniquement dans les sentiments qui se contrastent: c’est avec ce discernement qu’on fait usage des antithèses.” (II, 5).

A antítese, enquanto figura de estilo, prevê o contraste de dois pensamentos antagónicos, mas que se completam num determinado contexto. Exemplificando, por vezes aproximam-se adjectivos opostos, bonito/feio; branco/preto; quente/frio, e também substantivos, noite/dia, céu/terra, etc. De salientar que este artifício de linguagem não exclui entre si os juízos paradoxais, o que acontece no caso da antilogia.

2. A nível sintáctico, o vocábulo antítese significa a substituição de um fonema de uma palavra por outro fonema. (Ex.: de u para o em onda, do latim unda). Neste sentido, antithesis assume o significado de “pôr um elemento em vez de outro”.

3. No campo filosófico, entende-se como uma proposição que se opõe a uma tese. Segundo Kant, a antítese assume-se como proposição negativa das afirmações contraditórias da razão pura, ou seja, é uma proposição oposta à tese, constituindo com esta última uma antinomia ou contradição.

No pensamento hegeliano, deve compreender-se como a segunda etapa do processo dialéctico (anti + tese) que nega a primeira (tese), contribuindo para o aparecimento da síntese. (TeseÕAntíteseÕSíntese). Segundo estas perspectivas filosóficas qualquer tese confronta-se, irremediavelmente, com uma antítese.

4. Na esfera política, a evolução e as mutações da sociedade eram explicadas pelos filósofos idealistas e racionalistas a partir desta trilogia rotativa tese, antítese, síntese. A tese era sinónimo da fase sócio-política estável, aceite pela maioria da sociedade, a antítese simbolizava as alterações circunstanciais, das quais advinha o descontentamento, quer dizer, a reacção contra a tese. Esta etapa antitética não era mais do que o período conturbado, revolucionário, que, após um processo de síntese, levaria, outra vez, a sociedade à acalmia, originando uma nova tese.

 

Bibliografia:

 

Lausberg Heinrich: Elementos de Retórica Literária (1982); Pierre Fontanier: Les Figures du discours (1977).