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Desenvolvimento de um raciocínio com o fim de defender ou repudiar uma tese ou ponto de vista, para convencer um oponente, um interlocutor circunstancial ou a nós próprios.

A argumentação desenvolve-se em função de um destinatário, que influencia directa ou indirectamente a forma como evoluem os argumentos propostos. Argumentamos para persuadir alguém que, à partida, não partilha os mesmos pontos de vista ou as mesmas convicções que nós possuímos. Sem ferir a atenção do destinatário da argumentação, esta jamais poderá ser efectiva. É, pois, condição necessária o estabelecimento de um acordo que em nenhum caso pode ser tácito. A argumentação não é um acto de persuasão meramente psicológica de um auditório. Não nos serve nem a pretensão de eloquência de Isócrates nem a definição de Sócrates referida à tradição sofística da retórica como uma psicogogia ou “persuasão da alma” (Fedro, 261a). Fedro inicia o “Diálogo sobre a Retórica” chamando a atenção para o seguinte: “Ouvi dizer que para quem deseja tornar-se um orador consumado, não se torna necessário um conhecimento perfeito do que é realmente justo, mas sim do que parece justo aos olhos da maioria, que é quem decide, em última instância. Tão-pouco precisa de saber realmente o que é bom ou belo, bastando-lhe saber o que parece sê-lo, pois a persuasão se consegue não com a verdade, mas com o que aparenta ser verdade.” (Fedro, 260a). A estética da recepção de um discurso argumentativo exige uma outra filosofia.

Na retórica antiga, a questão da natureza e validade da argumentação era central. Na sofística, a ênfase era colocada no argumentos lógico-formais, mas deixava de oparte muitos que não entravam nessa categoria. É Aristóteles quem chama a atenção para esse facto, por isso vai tratar os argumentos estritamente lógicos nos Analíticos, reservando os argumentos ditos “dialécticos” ou prováveis para os Tópicos e a Retórica. Esta separação dos argumentos levar-nos-á à distinção entre aquilo que é demonstrável (obedece a uma lógica rigorosa) e aquilo que é arguível (não tem a obrigatoriedade de ser logicamente rigoroso).

A argumentação não se confunde com a demonstração: enquanto esta não exige um auditório para ser concretizada ou construída, aquela depende dele para se concretizar plenamente. A argumentação é, por definição, diálogo de ideias entre dois sujeitos; a demonstração é, pelo contrário, um exercício racional monologado ou impessoal. No primeiro caso, prevalece uma relação entre um Eu e o Outro a quem se tenta influenciar de algum modo; no segundo caso, subsiste a relação de um Eu com as leis da lógica, sendo o próprio sujeito o primeiro a ter de ser convencido das teses a demonstrar (só em circunstâncias especiais a demonstração exige um auditório, como na defesa de uma tese académica, por exemplo). Naturalmente, existem situações monodramáticas que não pressupõem a existência física de um destinatário da argumentação, conquanto um sujeito pode argumentar para si próprio, em qualquer processo de autognose. (A díade Eu/Outro não deixa, pelo menos em termos psicanalíticos, de se poder aplicar a esta situação do sujeito que argumenta sem auditório em vista, sendo o Outro aquela entidade abstracta que motiva a argumentação.) Na situação comum, quem argumenta deve ter um certo conhecimento do auditório a quem se dirige. Quanto maior for esse conhecimento maiores serão as probabilidades de êxito das teses defendidas. O perfil do destinatário da argumentação tem de ser previamente estudado ou ponderado, já que as qualidades oratórias do arguente, por si só, não são suficientes, sobretudo se o discurso for entendido de forma autotélica. Por esta razão, Aristóteles dedica o segundo livro da Retórica à caracterização do perfil do auditório na argumentação, segundo os critéros da idade, do nascimento, da fortuna e do poder. Toda a argumentação pressupõe, portanto, um ajustamento às características do seu destinatário último. Por exemplo, se o auditório for composto por pessoas com uma formação cultural e literária geral e não especializada, a melhor estratégia de comunicação será a de recorrer a lugares-comuns que possam ser reconhecidos por todos. O senso comum, nesta situação, é mais importante do que o alarde de erudição sem eco. As homilias públicas utilizam muito este tipo de estratégia, apelando a valores universais (o bem, a justiça, a liberdade, a fé,…) que todos facilmente aceitam em qualquer argumentação. Este foi o chamado “método português de pregar” do Padre António Vieira, que, seguindo a norma da época, desenvolvia a argumentação dos seus sermões recorrendo a “conceitos predicáveis”. Veja- se o clássico Sermão da Sexagésima (1655), que se inicia com um conceito predicável depois desenvolvido: Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo, que saiu o Pregador Evangélico a semear a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. (….)” (Sermões do Padre António Vieira, apres. de Margarida Vieira Mendes, Comunicação, Lisboa, 1982, p.127). Esta é uma técnica de argumentação que pressupõe uma estética da recepção totalmente controlada pelo orador. Os argumentos utilizados e ilustrados com lugares-comuns bíblicos só têm eficácia porque é suposto que o auditório conheça e aceite pacificamente as verdades morais apresentadas pelo orador. Se para os mesmos valores, estivermos a falar para um auditório especializado, precisaremos de os definir com maior precisão e contextualizá-los na história do pensamento, eventualmente comentando os diferentes sentidos canonizados. Na situação de extrema exigência, disse-o alegoricamente Platão, uma argumentação filosófica deve ser capaz de convencer até os deuses.

A argumentação não age sobre evidências. O que é evidente não necessita nem de demonstração nem de apresentação de argumentos a favor ou contra. A argumentação não pode ser a afirmação da verdade, porque todo o verdadeiro diálogo nunca esgota a possibilidade de investigação da verdade. Na crítica pós-estruturalista, assume-se que toda a leitura de um texto é impossível de ser definitiva e que o sentido de um texto jamais pode ser determinado ou fixo. Da mesma forma, a argumentação não pode partir do pressuposto de que uma conclusão retórica seja, por definição, a conquista de uma verdade universal. Argumentar é procurar coerência onde existe dúvida, é descortinar sentido num paradoxo, mas também pode ser dar sentido a uma absurdidade ou a uma contradição. Nisto se distingue do dogmatismo, pois não parte para a discussão com a certeza de verdades de facto e de razão. No discurso argumentativo, não se pode assumir que uma verdade, seja contingente ou necessária, jamais possua um oposto. A anulação do oposto de uma verdade pressupõe a anulação da própria potencialidade da argumentação. Mas para que seja convincente, a argumentação precisa de um elevado grau de credibilidade. Tal é inexequível no discurso dogmático, onde apenas prevalecem as verdades ditas universais e impossíveis de contrariar. A argumentação é, por definição necessária, sobretudo contestação. Como afirma o Padre António Vieira, no final do supracitado Sermão da Sexagésima, em termos que se podem estender a toda a argumentação crítico-literária: “A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que dá pena. (….) quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atónito, sem saber parte de si, então é a pregação qual convém” (op. cit., p.173). Se nada houver para contestar num texto, nada fica para argumentar. Hoje, todos os quadrantes da crítica parecem concordar que não mais é possível governar o sentido de um texto literário, pelo que dele não poderemos dizer que é incontestável. Não devemos confundir contestação com destruição arbitrária das ideias de um texto. Se as premissas da argumentação estiverem erradas, ela será sempre falaciosa.

Se na argumentação não se pode garantir a certeza absoluta de uma tese, nada nos impede de tentar convencer um auditório do contrário. Essa é uma estratégia retórica que vem desde a antiga sofística. Contudo, toda a argumentação deve fundar-se no razoável e não admitir a arbitrariedade das posições. A determinação do que é razoável numa argumentação é tanto da responsabilidade do arguente como do auditório, cabendo a este a confirmação final de toda a razoabilidade das teses propostas. Além disso, exige-se que a razoabilidade seja combinada com a total coesão dos argumentos. Terá sempre de existir uma grande solidariedade entre esses argumentos razoáveis e as convicções do auditório. Para atingir o fim da razoabilidade pode, em qualquer caso, o arguente utilizar figuras de retórica ou outros artifícios de linguagem e composição que acompanham, regra geral, todo o texto argumentativo. A diversidade dos argumentos apresentados é essencial para o mesmo fim. Pode, neste caso, o arguente socorrer-se de argumentos analógicos, de argumentos de autoridade, de argumentos a pari (com proposições semelhantes), de argumentos a fortiori (de uma proposição já validada para uma outra ainda mais evidente),ou de argumentos a contrario (de uma proposição já validada para a rejeição do seu contrário).

Diversos tipos de texto podem ser classificados como argumentativos. Simplificando, podemos distinguir o científico, o filosófico e o crítico-literário. O texto argumentativo científico depende fortemente da validade epistemológica da argumentação. O objectivo de toda a investigação científica é o de apresentar argumentos que possam sujeitar-se à demonstração. A argumentação intervém neste processo como forma de reconhecimento da concordância desses argumentos entre si e para o fim a que se destinam. Este tipo de texto tem sempre um modus operandi investigativo.

Um facto inevitável do discurso argumentativo é a sua abertura para a demagogia. O discurso demagógico define-se pelo excesso e pela ansiedade de protagonismo. A história deste tipo de expressão começa na sofística e é consabido que Platão desencadeou a primeira e a mais violenta crítica a tal abertura da argumentação para a demagogia. Quando tal se verifica, a argumentação não pode ser considerada uma arte (techne), mas apenas uma simples capacidade de persuasão de um auditório que é manipulado até lhe se lhe arrancar um aplauso gratuito. No método demagógico da argumentação, não há lugar a qualquer tipo de reflexão filosófica, porque apenas se aplaude e não se pergunta nada. Por isso, é pura adulação. O antídoto para a argumentação demagógica é a argumentação dita socrática.

A argumentação no texto filosófico pode ser dedutiva, se partir de proposições gerais para as quais se exige uma refutação. Esta é tida por inesgotável: uma afirmação há-de sempre corresponder a uma contra-afirmação. Um texto filosófico só pode ter validade se tiver sido objecto de investigação por todos os prismas possíveis, se todas as suas premissas tiverem sido sujeitas à máxima confrontação com as ideias correlatas e adversárias. Uma argumentação filosófica forte precisa de uma confrontação de força idêntica. Em filosofia, só os cépticos não aceitam que a concordância de pontos de vista seja improvável. Neste tipo de argumentação, devemos partir do pressuposto de que é provável chegar a um acordo de pontos de vista, sem o que todo o debate será inconclusivo, pois jamais algum ponto de vista será considerado aceitável. A argumentação socrática é essencialmente refutação (elenchos), e exige que o interlocutor fique desarmado nas suas mais profundas convicções. Não se trata de argumentar para destruir outra argumentação, não se trata de uma pura dialéctica negativa, mas de um processo de persuasão epistemológica, que deixa em aberto a continuação do inquérito realizado sobre uma suposta verdade ou convicção. A argumentação socrática requer um acordo final entre as partes envolvidas no diálogo: o arguente A tem de convencer o arguente B de que a sua posição inicial era falaciosa, portanto, a argumentação de A tem que ser mais sólida e convincente do que a de B. O fim último da argumentação socrática não é o da simples contradição das ideias pré-concebidas por outrem, mas o de mostrar a este Outro como é que se deve construir uma argumentação.

O texto crítico-literário argumentativo deve trabalhar com dilemas, ou seja, deve partir sempre da deliberação entre duas possibilidades de escolha, apresentando ambas consequências que contradizem os interesses partidários. Este é o trabalho de leitura crítica de um texto literário em condições ideais. Se assumirmos que todo o texto é um labirinto de sentidos com duas saídas únicas – a do leitor e a do texto em si mesmo -, a leitura crítica desse texto devia consistir unicamente na descoberta dessas duas saídas difíceis. Através de raciocínios cujas premissas sejam sempre colocadas em alternativa, de sorte que qualquer dos seus termos conduza à mesma consequência, podemos realizar o acto crítico, que assim pode ser entendido como um acto de argumentação. A diferença entre o tipo de argumentação crítica que normalmente vemos fazer nos jornais, no ensaísmo e nas aulas de literatura e a argumentação crítica nascida de uma verdadeira retórica textual reside no facto de a primeira ser essencialmente dirigida para o interesse pessoal do sujeito ou de um público especializado, ao passo que a segunda desconhece o valor de interesse pessoal ou esotérico para substituí-lo pelo de persuasão razoável pública. Por outras palavras, o arguente que queira apenas mostrar-se à opinião pública não precisará nunca de tentar compreender sequer a essência dos dilemas do texto, pois basta-lhe dizer que o texto do autor que a sua leitura argumentativa privilegiou jamais comportaria qualquer espécie de impasse; o arguente de um texto que acredite em algo mais do que a certeza da sua erudição, pode aproximar-se da verdade do texto se aceitar participar no gozo da descoberta e resolução dos embaraços da linguagem. O primeiro julga-se um arguente credível; o segundo prefere antes tentar provar a credibilidade do objecto de argumentação, jogando ironicamente com a verdade. O arguente que autodetermina a sua credibilidade foge desde logo à premissa básica da retórica de que todo o discurso é feito com intenção de alterar uma situação determinada, pois ele nada quer mudar para além do reforço da sua autoridade quase sempre mais à custa dos autores do que dos textos; o arguente submetido aos limites da sua autoridade sabe que depende exclusivamente do texto e está consciente de que a sua missão se pode enquadrar nessa tarefa penosa de contribuir para que um dado texto não permaneça num estado falacioso de pureza.

A argumentação crítica visa hoje inverter os termos da retórica clássica dos oradores gregos e romanos: o encantamento da opinião pública deve ser substituído pelo encantamento do leitor perante o texto; o poder do discurso oral, pelo poder significante do logos inscrito no texto autoral, ao qual sucede o poder significante do texto crítico; à verdade aparente detida pelo rhetor, o jogo aberto da verdade que o leitor vai procurando. Este tipo de argumentação que privilegiamos no estudo teórico-crítico da literatura é apenas o estudo prévio do funcionamento interno do texto, pelo que será sempre um estudo limitado, não constituindo um princípio em si. A mão aberta da retórica tem que se fechar e desferir golpes mais profundos sobre esse texto do qual se descobriu a engrenagem. Uma leitura retórica permite identificar literalmente os dilemas de construção do texto, porém ficamos indefesos perante a forma como tais dilemas ou aporias resistem às crenças do autor, por exemplo. Uma vez dentro, para os enfrentar é necessário recorrer a outra forma de actuação, que é fundamentalmente dialéctica. A retórica é a faculdade de dizer quais os caminhos a percorrer, mas não tem força para realizar a tarefa concreta de esquadrinhamento desses caminhos. Por outro lado, porque a arte dialéctica também pode conhecer diversos estilos ou formas de actuação, de alguma forma a retórica não fica totalmente para trás.

A organização do texto argumentativo exige uma interacção premeditada dos argumentos que fundamentam o discurso. Na retórica clássica, um discurso tipicamente argumentativo, por exemplo um sermão, obedece a regras fixas, que pressupõem, nesse caso, diversas partes fixas: um exórdio sobre o tema escolhido, uma proposição (ou dúvida apresentada), uma divisão, uma argumentação propriamente dita, uma confirmação (com conceitos predicáveis dos Evangelhos), e uma peroração (reforçando a persuasão do auditório). A uma organização rigorosamente premeditada devemos acrescentar duas condições ideais: todo o texto argumentativo deve procurar a originalidade e uma certa veemência dos argumentos. Um argumento que não seja novo, não acolherá solidariedade e admiração mas simples anuência; um argumento que não seja veemente terá maiores dificuldades em se impor e em despertar a atenção crítica do auditório. Estas duas condições aceitam-se como norma geral, se a argumentação for entendida no seu sentido tradicional de acto de persuasão de um auditório. Também é verdade que será sempre mais fácil dizer que um dado texto argumentativo não é original na sua formulação nem tem veemência de argumentos do que o contrário. Porque não estamos no domínio do texto científico, cujos argumentos são demonstráveis de forma a não permitir a contestação imediata, o texto argumentativo só se concretiza verdadeiramente quando a sua recepção é polémica, isto é, quando desperta no auditório sentimentos contrários que ajudarão a pesar a validade dos argumentos originais.

Não está provado que a acumulação de argumentos seja directamente proporcional à eficácia da argumentação, nem mesmo o contrário. Em primeiro lugar, devemos atender não só à formação literária e à composição do auditório a que nos dirigimos. A duração e/ou extensão do texto a apresentar, incluindo a forma de apresentação (texto lido na íntegra, texto-base lido diagonalmente para privilegiar a exposição oral, texto-guia para privilegiar a improvisão, etc.), pode ser determinante. A leitura de um texto longo durante uma hora pode não ter o mesmo impacte que uma exposição oral dos argumentos com a mesma duração. O perfil oratório do arguente define, em regra, não só a veemência do discurso oral como a adesão do auditório. Este costuma deslumbrar-se mais com um bom comunicador do que com uma boa comunicação – naturalmente, as duas circunstâncias constituem, no mesmo indivíduo, a situação modelo.

Porque nem todos os argumentos têm a mesma veemência, é necessário distribuí-los gradativamente no discurso. Podemos optar por uma de três soluções: por ordem decrescente, por ordem crescente ou por ordem nestoriana (Nestor, rei de Pilos, símbolo clássico da sabedoria e da experiência, costumava colocar no meio as suas tropas mais frágeis), abrindo e fechando com os argumentos mais fortes. Esta é a prática privilegiada pelos antigos retóricos. Podemos ilustrar com o seguinte texto argumentativo de Eça de Queirós: “[1a] O que são há 20 anos os partidos em Portugal? (….) Que pensamentos traduzem? Que grande facto social querem realizar? Formam-se, desagregam-se, dissolvem-se, passam, esquecem, sem que deles fique uma edificação aproveitável, uma criação fecunda. (….) [2] Isto é uma política superficial. Superficial, porque atende à questão de forma e de aparência, e não discute os princípios. Superficial, porque se ocupa tenazmente em recompor velhos erros. (…) [1b] Toda a política há 20 anos tem sido assim; todos desesperam já de ver correr um sangue puro e uma vida enérgica e fecunda neste corpo consumido.(…)” (Textos do Distrito de Évora 2, Obras Completas, vol.XII, Círculo de Leitores, Lisboa, 1980, pp.101-102). [1a] introduz a questão em debate com questões retóricas veementes; [2] desenvolve anaforicamente o argumento principal (“a política é superficial”), com a análise crítica de todas as suas aplicações; [1b] retoma o sentido da interrogação inicial, concluindo com o argumento mais forte para sustentar a tese da superficialidade, precisamente com referência àquilo que fica de fora nesse cenário político comentado: “Por isso, aqueles que não se prenderam a partidos (….) só pedem aos que vêm de novo (….) que atendam a estas coisas divinas que são as únicas que elevam, enobrecem e fazem a grandeza duma nação – a instrução, a dignidade, o sentimento popular, a inteira liberdade, a profunda razão e a verdadeira justiça.” (p.102). É importante não aceitar que a veemência de um argumento seja uma classificação apriorística e definitiva. Tal classificação é muitas vezes intuitiva e não deve cegar a capacidade de contestação do auditório nem a capacidade de auto-crítica do arguente. A rigor, não há uma ordem prioritária de organização dos argumentos, porque o efeito produzido é sempre variável de auditório para auditório. Apenas uma excepção: a ordem cronológica dos argumentos, se se aplicar, é fundamental que seja respeitada.

 

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