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Termo dos estudos culturais associado ao pensamento de Michel Foucault, que nos propõe um método de investigação histórica que renuncia a todas as verdades preestabelecidas e à inquirição das origens, preferindo antes um método de inquérito de discursos ou sistemas de sentido. Por exemplo, a clínica, a que Foucault dedica exaustivos estudos (ver em particular Naissance de la clinique. Une archéologie du régard médical, 1963), é investigada não pela ordem cronológica do seu desenvolvimento, mas pela arqueologia do seu significado, pelas descontinuidades das suas estruturas sociais, em primeiro lugar no século XVIII e depois em comparação com as indagações realizadas pela psicologia e pela psiquiatria. A clínica é então estudada em todos os seus discursos ou modulações de sentido, verificando as suas transformações, as condições da sua existência e as causas do seu declínio. A soma de todo os discursos possíveis sobre a clínica é aquilo a que Foucault chama o arquivo e é sobre este arquivo que o trabalho da arqueologia deve incidir. Não se estabelece nenhuma hierarquia de valores, mas apenas aquilo a que Foucault chama a “regularidade dos discursos”.

O método arqueológico de Foucault estende-se à investigação da natureza do poder na sociedade, comparando-o com as formações discursivas sociais que tornam o conhecimento possível. Obras como Folie et déraison. Histoire de la folie à l’âge classique (1961), Archéologie du savoir (1969),  L’Ordre du discours (1971) e Surveiller et punir. Naissance de la prison (1975), ilustram diferentes formas de poder que controlam o indivíduo. É pela investigação dos discursos, caracterizados por descontinuidades culturais, que essas formas de poder originam que o método arquelógico, de carácter estruturalista, se desenvolve. A Foucault interessaram sobretudo os discursos da psiquiatria, da medicina, do direito e das ciências sociais e humanas em geral. A arqueologia rejeita quaisquer tentativas de unificação dos dados da memória colectiva, repudia as sínteses historicistas, as continuidades das grandes descrições históricas, a própria ideia de uma obra total, porque o seu fundamento encontra-se na pesquisa de enunciados particulares em determinados discursos, por isso o método de Foucault se apoia em descontinuidades, diferenças e dispersões para tentar recuperar a episteme do passado.

 

Bibliografia:

 

Colin Gordon (Ed.) Power/Knowledge: Selected Interviews & Other Writings 1972-1977 by Michel Foucault (1981); Hubert L. Dreyfus e Paul Rabinow. Michel Foucault: beyond Structualism and Hermeneutics (1982); Michel Foucault: Folie et déraison. Histoire de la folie à l’âge classique (1961) ; Naissance de la clinique. Une archéologie du régard médical (1963); Les Mots et les choses (1966); Archéologie du savoir (1969);  L’Ordre du discours (1971) ; Surveiller et punir. Naissance de la prison (1975) ; Revista de Comunicação e Linguagens, nº19 (“Michel Foucault: Uma Analítica da Experiência”) (1993)