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[Do gr. archétypon, “modelo”, “padrão”.] Termo proposto em 1919 por Carl G. Jung, psicólogo e psicanalista suíço (1875-1961), para designar o conjunto de imagens psíquicas do inconsciente colectivo que são património comum de toda a humanidade: “São sistemas de prontidão para a acção e, ao mesmo tempo, imagens e emoções. São herdados junto com a estrutura cerebral – constituem de facto o seu aspecto psíquico. Por um lado, representam um poderoso conservadorismo instintivo e são, por outrolado, os meios mais eficazes que se pode imaginar de adaptação instintiva.” (Mind and Earth, The Collected Works, vol.10, 53). O conceito de arquétipo é, contudo, já localizável em Platão, no seu tratamento das ideias formais ou arquétipos (o Bem, o Belo, a Bondade, a Verdade, etc.).PRIVATE O conceito entrou na literatura através dos trabalhos de antropologia cultural de James G. Frazer e dos trabalhos de psicologia de Carl G. Jung. Maud Bodkin contribuiu também para a afirmação do termo na crítica literária com Archetypal Patterns in Poetry: Psychological Studies of Imagination (1934).

A literatura ocidental, em particular, tem conhecido arquétipos exaustivamente tratados em temas religiosos, mitológicos, lendários ou fantásticos: “O conteúdo arquetípico exprime-se, em primeiro lugar, e sobretudo, na forma de metáforas. Se tal conteúdo fala do sol e o identifica com o leão, o rei, o tesouro de ouro guardado por um dragão, ou a força responsável pela vida ou pela saúde de um homem, ele, entretanto, não é nem uma coisa nem outra, mas o terceiro desconhecido, que encontra uma expressão mais ou menos adequada em todos estes símiles e que, mesmo assim, permanece desconhecido (…) e não se encaixa em nenhuma fórmula.” (The Psychology of the Child Archetype, The Collected Works, vol.9i, 267). Jung distingue ainda como principais arquétipos a sombra, o velho sábio, a criança e o herói-criança, a mãe (“Mãe Primordial”/”Mãe Terra”), a virgem, a anima (o feminino do homem) e o animus (o masculino da mulher). Estes e outros arquétipos (imagens primordiais como o paraíso perdido, os irmãos inimigos, o círculo, a rosa, a serpente, etc. ou stock characters como o Don Juan, a femme fatale, o herói e o anti-herói, o mágico e o alquimista, o braggadocio, etc.) permanecem sempre intactos e inalteráveis qualquer que seja o tratamento literário que sofram. Um arquétipo é sempre atavista e universal. Um exemplo concreto, pode ser o modelo dos africanos que nos é dado no romance de Alexandre Pinheiro Torres A Nau de Quixibá (1976; 2ªed., 1989), na personagem Mutamba, padrão de todos os angolares: “«O Padrinho acha que o Mutamba é um arquétipo.» «Um arquétipo? (…)» «Sim, um arquétipo», desafiou-me. «O da solidez, o da fidelidade a um lugar, mesmo que seja o mais aspérrimo do universo, o do sacrifício, o da tenacidade, o que tu quiseres, de que a nossa educação e civilização, mal encaminhadas, parecem haver-nos afastado sem remédio.» (p.214).

No seu livro clássico Anatomy of Criticism (1957), o crítico canadiano Northrop Frye desenvolveu um modelo de crítica literária – a crítica arquetípica – baseado na teoria dos arquétipos, que o antropólogo britânico J. G. Frazer havia já abordado em The Golden Bough – A Study in Magic and Religion (1890-1915; publicado em 1922 numa edição completa de 12 vols.), fazendo um estudo mitológico comparativo que se tornou referência obrigatória para o estudo dos arquétipos.

Numa outra acepção, o arquétipo designa ainda, em ecdótica ou crítica textual, o manuscrito que dá origem a cópias ou apógrafos.

 

Bibliografia:

 

Carl G. Jung: The Archetypes and the Collective Unconscious (The Collected Works, vol.9i, 2ªed., 1968); Daryl Sharp: Léxico Jungiano – Dicionário de Termos e Conceitos (1991); E. Cassirer: Sprache und Mythos (1925); Joseph Campbell: The Hero with a Thousand Faces (1949); Jessie Weston: From Ritual to Romance (1957); M. Azevedo Fernandes: “Sobre o arquétipo do herói”, O Médico, 604 (1963); Northrop Frye: “The Archetypes of Literature”, in Fables of Identity (1963).