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Ironia subtil que introduz num discurso uma ideia contrária à lógica que a precede. Geralmente, serve para dissimular um elogio sob a capa de um juízo crítico (ou vice-versa). Pode ser combinada com o equívoco, embora pressuponha sempre uma premeditação dos sentidos duplos com que se joga. Virgílio dá-nos um exemplo clássico: “Quem Bávio não odeia que a teus versos / dê preferência, Mévio” (Bucólicas, III, 90), se soubermos que tanto Bávio como Mévio foram poetastros, portanto, diz-se subtilmente que só um apreciador de maus versos como os de Bávio seria capaz de fazer idêntico juízo dos de Mévio.

Na Inglaterra renascentista, regista-se o asteísmo como próximo do acismo, quando, surpreendentemente, se diz algo que contraria a verdadeira intenção do que se queria dizer. Em Macbeth, o guardião do castelo de Macbeth usa o asteísmo quando responde à pergunta de Macduff sobre os três efeitos da bebida: “Marry, sir, nose-painting and urine. (….) Much drink may be said to be an equivocator with lechery: it makes him and it mars him; it sets him on and it takes him off; it persuades him and disheartens him, makes him stand to and not stand to; in conclusion, equivocates him in a sleep, and, giving him the lie, leaves him.” (Acto II, 2.3). Shakespeare joga triplamente com o sentido de “lie”: mentir, estar deitado e urinar (lie=lye, calão para urina).