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A autoria é uma função. É desta forma que Michel Foucault desenvolveu toda uma definição de autoria que contrapõe-se tanto à idéia de que o autor está morto (presente nas teorias que enfatizam a função do leitor) quanto à de que a figura do autor coincida com alguma origem subjetiva determinada.

Segundo Foucault, o conceito de autoria, tal como concebe a cultura moderna, se estabelece no final do século XVIII e início do século XIX quando se instaura a noção de texto como propriedade e o autor passa a ter direitos. A idéia de autoria torna-se, então, central aos discursos considerados “literários”, já que se relaciona à noção de criador original que perpassa a modernidade artística. Por outro lado, referir-se à autoria de um texto pressupõe não a correlação deste com um indivíduo, mas à implícita percepção de traços textuais capazes de relacioná-lo a outros textos e reuni-los sob um mesmo nome – o do autor. “O autor”, diz Foucault “permite ultrapassar as contradições que podem manifestar-se numa série de textos” (O que é um autor? Vega, Lisboa, 1992). Os discursos providos de autoria, segundo Foucault, caracterizam-se por remeterem a uma multiplicidade de “eus”, já que o autor funciona em um entrelugar que não coincide nem com o escritor propriamente dito nem com a entidade fictícia que se define como narrador.

Umberto Eco, por sua vez, estabelece uma clara distinção entre o autor-empírico, o escritor, e o que denomina autor-modelo e que define como um “it”, ou seja, o “estilo” (Seis Passeios pelos Bosques da Ficção, Companhia das Letras, São Paulo, 1994).

A autoria de uma obra remete, portanto, a um conjunto de traços que a tornam, ao mesmo tempo, singular e passível de ser relacionada contrastivamente a outras outras.