Num sentido restrito, o termo beat originalmente significa “cansaço” e “derrota”, para depois conotar “beatitude espiritual”, o que permitiu que os nova-iorquinos que imigraram para São Francisco ficassem conhecidos por “franciscanos”. Foi seu criador Jack Kerouac (1922-69), autor de obras em prosa como On the Road (1957), The Dharma Bums (1958) e Big Sur (1962). Kerouac inventou a expressão beat generation em 1948, mas só quatro anos mais tarde o seu amigo John Clellon Holmes escreveu um artigo no New York Times Magazine com o título “This is a beat generation”. Esta geração refere-se a um pequeno grupo de escritores americanos activos nos anos 50, com especial destaque para os poetas que divulgaram a chamada beatnik poetry, com um estilo muito personalizado e fechado numa gíria muito particular repescada na música jazz, e que teve importantes repercussões na cultura popular. PRIVATE
A designação beatnik (o sufixo nik foi emprestado de Sputnik, o satélite russo que havia sido entretanto lançado), que expressava a alienação cultural e social, foi cunhada por uma colunista norte-americano e tem um sentido pejorativo em face da atitude de demissão dos beatniks perante a política (embora tenham alinhado nos movimentos anti-nucleares) e os problemas sociais. Os escritores beat sentiam-se derrotados (“beat”) porque não acreditavam em empregos fáceis e tinham que lutar para sobreviver em apartamentos modestos. Viajavam constantemente e à boleia, porque não suportavam estar no mesmo sítio muito tempo. A expressão que os congregou em geração literária e definiu um género literário particular pretendia fazer eco da expressão lost generation que Hemingway havia escolhido para definir a geração nascida na I Guerra Mundial. O centro de actividade destes escritores foi San Francisco, mas também Greenwich Village em Nova Iorque. Os pais espirituais da beat generation foram Walt Whitman, Henry Miller, Kenneth Rexroth, Norman Mailer. William S. Burroughs (Junkie, 1953; The Naked Lunch, 1959) foi reabilitado pelo movimento.
Assumindo uma atitude social de contravenção, repudiando qualquer intelectualismo ao mesmo tempo que negavam os valores sociais das classes médias, os escritores desta geração foram buscar a sua inspiração ao jazz, ao budismo Zen e a certos cultos índios e esforçavam-se por se distinguirem até no aspecto físico, calçando sandálias, usando jeans e deixando crescer a barba, atitude que precede os hippies dos anos 60.
Construíram uma imagem de rebeldes com causa anárquica, escolhendo um estilo de vida recheado de drogas, sexo livre, álcool q.b., e todo o tipo de desafio das convenções mais respeitadas da sociedade moderna, atitude que a poesia de Allen Ginsberg (Howl and Other Poemas, 1956, e Kaddish, 1963) resume. Os poetas beat, como Gregory Corso (Gasoline, 1958), Lawrence Ferlinghetti (A Coney Island of the Mind, 1958), Gary Snyder (Riprap, 1959), tentaram libertar a poesia de academismos, procuraram trazê-la para a rua, libertaram-na de exigências formais, cultivaram a expressão caótica e a linguagem obscena, porque acreditavam que a poesia devia ser pura espontaneidade, sem planificações nem estruturas premeditadas ou pré-fixadas e desafiando qualquer inteligibilidade.
Ann Charters: Beats and Company: Portrait of a Literary Generation (1986); Bruce Cook: The Beat Generation (1971); David Kherdian (ed.): Beat Voices: An Anthology of Beat Poetry (1995); Edward H. Foster: Understanding the Beats (1992); Gregory Stephenson: Daybreak Boys: Essays on the Literature of the Beat Generation (1990); Lee Bartlett (ed.): The Beats: Essays in Criticism (1992); Park Honan (ed.): The Beats: An Anthology of “Beat” Writing (1987); The Beat Book (Shambhala, 1995); The Beat Generation Writers (Pluto Press, 1995).
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