Uma biblioteca, em sentido lato, é uma colecção organizada de livros, publicações em série, documentos gráficos e audiovisuais possuída por um particular, ou por uma instituição, caso em que se destina à consulta ou empréstimo ao público. Em sentido estrito, designa ainda a própria instituição ou serviço responsável pela aquisição, conservação, tratamento documental e comunicação de monografias e publicações periódicas, impressas ou manuscritas, facilitando, através de recursos humanos e técnicos especializados, o acesso dos utilizadores a documentos que correspondam às suas necessidades de informação. Designa também o espaço físico – estantes, sala ou edifício – onde os livros e documentos se encontram arrumados, bem como o açervo das obras literárias de um povo. O termo biblioteca deriva do grego “bibliothéke”, que significa depósito de livros, e foi adoptado para o português a partir do latim “biblioth?ca-”.
Efectivamente, as bibliotecas eram “depósitos de livros”, locais com pó, guardados da luz e das pessoas, para que os livros, frequentemente raros, pudessem ser protegidos. No entanto, este conceito já não é aceite pela maioria dos bibliotecários, que tentam abrir as portas das bibliotecas ao maior número possível de pessoas, facilitando o acesso directo aos livros. E, citando Umberto Eco, “se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem” (p. 44).
As bibliotecas mais antigas eram sagradas e, como tal, dirigidas por sacerdotes e anexas aos templos. De todas, aquelas de que chegaram até nós vestígios mais remotos foram a Biblioteca de Ebla, descoberta por Paolo Matthiae em 1975, com 17.000 fragmentos de tábuas de argila escritas em caracteres cuneiformes, o que equivale a cerca de 4.000 documentos, e a Biblioteca de Assurbanípal, encontrada por Layard e Rassam em 1849 no palácio de Ninive, com cerca de 30.000 fragmentos. Mas, a história dá-nos conta de outras bibliotecas mais antigas, como sejam a de Alexandria e a de Pérgamo, ambas do século III a.C.
A invenção do papel pelos árabes, no século XI, e da imprensa por Gutemberg, no século XV, contribuíram para facilitar o acesso ao livro, até então caríssimo, e as bibliotecas, privadas e institucionais, multiplicam-se no início do Renascimento. A testemunhá-lo fica o número de obras impressas no século XV, vinte milhões de exemplares, que aumentou para cerca de duzentos milhões no século XVI.
Recorrendo às palavras de Umberto Eco, podemos resumir da seguinte forma a função de uma biblioteca: “No início, no tempo de Assurbanípal ou de Polícrates, talvez fosse uma função de recolha, para não deixar dispersos os rolos ou volumes. Mais tarde, creio que a sua função tenha sido de entesourar: eram valiosos, os rolos. Depois, na época beneditina, de transcrever (…) em determinada época, talvez já entre Augusto e Constantino, a função de uma biblioteca seria também a de fazer com que as pessoas lessem” (p. 15).
A primeira biblioteca organizada em Portugal foi a de D. João I, que seu filho D. Duarte aumentou com muitos livros adquiridos no estrangeiro por preços muito elevados.
ECO, Umberto, A Biblioteca, trad. Maria Luísa Freitas, 2ª ed., Lisboa, Difel, 1991; ESCOLAR, Hipólito, Historia de las Bibliotecas, 3ª ed., col. Biblioteca del libro, Madrid, Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 1990; MASSON, André e Paule Salvan, Les Bibliothèques, 2ª ed., col. Que sais-je?, nº 944, Paris, PUF, 1963
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