Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Termo francês convencional (literalmente, “brasão”) para o texto que faz a apologia das qualidades físicas de uma mulher, enumerando-as dentro dos padrões da decência. Embora o termo seja corrente desde o século XII (no sentido de descrição, explicação, discurso, conversação) e se registe no século XV como forma de poesia bucólica ou satírica, só depois que Marot publicou Blason du Beau Tétin (1535), o género se difundiu, sem originalidade, aliás, porque quase todas as imagens já se encontram na literatura clássica greco-romana. É também um género comum na poesia lírica isabelina, por exemplo. Philip Sidney escreveu um célebre blason: “What tongue can her perfections tell?”; também Spenser inventariou as belezas da mulher em Epithalamion (1595). O blason aplica-se às descrições convencionais da mulher na poesia de Petrarca, largamente imitado na poesia europeia do Renascimento, o que contribuiu para a poetização de lugares-comuns sob a forma de metáforas gastas: os lábios de coral, os dentes de pérola, os cabelos de ouro, as mãos de seda, etc. O soneto de Camões “Dizei, Senhora, da Beleza ideia” pode ser considerado um blason, onde não faltam clichés como os olhos que irradiam uma “luz Febeia” e o “doce riso”. Tudo o que releve da figura feminina se pode blasonar (blasonner). Shakespeare parodiou estes convencionalismos no soneto: “My mistress’eyes are nothing like the sun”. A esta paródia convém o nome de contreblason. O próprio Marot escreveu o primeiro da espécie em 1536, intitulando-o Blason du Laid Tétin, onde apela à decência e ao respeito pelo objecto descrito. No final do século XVI, o blason já não encontra cultores. Apenas esporadicamente vamos encontrar referências ao género depois da sua época, por exemplo, em 1961, Etiemble publica um romance erótico com o nome Blason d’un corps.

{bibliografia}

Cathy Yandell: “A la recherche du corps perdu: A Capstone of the Renaissance Blasons anatomiques”, Romance Notes, 26, 2 (Chapel Hill, 1985); Daniel Menager: “Ronsard, Belleau et les blasons de 1554-1556”, Nouvelle Revue du XVIe Siècle, 14, 1 (Paris, 1996).