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Designação que se pode atribuir às peças produzidas no século de ouro do teatro espanhol (século XVII), pois as representações eram muito ruidosas, devido à proliferação de engenhos mecânicos, de artificiosa maquinaria, que produzia efeitos espectaculares.

Indissociável do teatro espanhol dessa época, é Lope de Vega, o mais profícuo dos autores de teatro (criou cerca de 1840 peças) e o fundador de uma dramaturgia nacional própria. Da sua vastíssima produção artística fazem parte autos sacramentais, comédias religiosas, pastoris, hagiográficas, de costumes, sobre História de Espanha e do estrangeiro, entre outros. Assim, a evolução por que o teatro espanhol passou, a nível técnico, até chegar a ser considerado um teatro de “tramoya”, de maquinarias, de espectáculo, liga-se ao percurso artístico de Vega.

No início da sua carreira, a técnica de representação estava completamente parada e os “truques” a que podia recorrer muito eficazes. Porém, o movimento, o dinamismo que imprimia às suas peças era capaz de suprir a carência de meios oferecidos pela técnica teatral e captar a atenção do público durante todo o espectáculo. Aliás, essa é a principal preocupação de Vega, que faz da empatia com os espectadores a principal regra da sua Nueva Arte de hacer Comédias (poema didáctica).

No final do século XVI, os teatros de Madrid, sob a liderança de Vega, haviam atingido o estatuto de “especialistas” em representação. Vega foi acompanhado pelas companhias da “Commedia dell’Arte”, que chegaram da Itália em 1574 e que traziam técnicas teatrais muito mais avançadas; Alberto Ganassa foi o director que mais se destacou. Este foi o primeiro passo na evolução técnica do teatro espanhol.

A partir de 1958, com a existência de um teatro de corte, paralelo ao dos “corrales” (pátios interiores de pousadas transformados em teatros), o luxo e o engenho nas representações aumentaram muito.

À medida que a técnica teatral se aperfeiçoava, nota-se um certo desinteresse de Vega pela qualidade literária do texto e uma grande preocupação com a representação.

O esplendor da arte cénica foi atingido no reinado de Filipe IV, que contratou o engenheiro florentino Cosme Lotti, grande mestre da cenografia. Assim, por volta de 1615 deu-se a eclosão de efeitos espectaculares, que iria atingir o auge em 1640 com a inauguração do “Coliseo”, teatro da autoria de Lotti, mandado erigir pelo rei e em que se podia pôr em prática toda a riqueza dos efeitos cénicos.

De entre as inovações técnicas, destacam-se as seguintes: criação de vulcões que entram em erupção, de mares tempestuosos com navios balouçando, de máquinas de voar, de nuvens, relâmpagos e trovões; ilusão de que o palco se desmorona ou que se incendeia. Numa peça de Calderón (Hado y divisa de Leónido y Marfisa), mudou-se dez vezes de cenário, exigindo cada um deles decorações e engenhos diferentes (grutas, bosques, montanhas …); noutra (La Fiera, el Rayo y la Piedra), através da máquina de voar, Cupido desaparece por entre as nuvens e o céu muda de tonalidade.

Lope de Vega considera que todo esse entusiasmo pelo espectacular foi prejudicial à arte dramática e numa comédia fazia aparecer uma figura alegórica, o “Teatro”, que dizia ter chegado a uma grande decadência, devido à excessiva predilecção dos encenadores pelo truque e pela maquinaria, o que afastava os dramaturgos e o público do conteúdo do texto, sendo o “trabalho dos pensamentos” substituído pelo dos carpinteiros.

A magnificiência abusiva da maquinaria vai ao encontro da exuberância de artifícios que carateriza o barroco e oculta o vazio a nível do conteúdo. Assim, o “ruído” provocado pela maquinarias impede o público e o dramaturgo de se concentrarem no conteúdo do texto e, por outro lado, esse “ruído” oculta o vazio silencioso dos textos.

bibliografia

A. H. Rennert, The Spanish Stage in the Time of Lope de Vega (1963); N. D. Shergold, A History of the Spanish Stage from Medieval Times Until the End of the Seventeenth Century (1967); Othón Arróniz, Teatros y escenarios del Siglo de Oro (1977); R. Trevor Davies, The Golden Century of Spain (1937).