Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Comédia de costumes, próxima da comédia sentimental. Concentra-se na crítica de hábitos e de costumes de determinados tipos sociais, sobretudo nas classes média e alta, pelo que não surpreendem os seus cenários de elegância e sofisticação, onde passeiam jovens amantes, contando mais as aparências do que um verdadeiro carácter. Este tipo de comédia tem a sua origem na Comédia Nova de Menandro (c.342-292 a.C.) e continuada pelos romanos Plauto e Terêncio (séculos III e II a.C., respectivamente), cujas peças preferiam a crítica do amor, deixando de lado a crítica política característica da Comédia Antiga, que tem como principal representante Aristófanes. Estes comediógrafos antigos foram lidos apaixonadamente durante o Renascimento, pelo que não se estranha a sua influência nos dramaturgos modernos.

Em Inglaterra, o termo comedy of manners canoniza-se no período da Restauração, com autores satíricos como William Wycherley (The Country-Wife, 1675) e Congreve (The Way of the World, 1700), preocupando-se com a crítica de maneiras afectadas e certas convenções sociais. As comédias de Shakespeare Love’s Labour Lost (c.1595) e Much Ado About Nothing (c.1598-99) estão entre os primeiros exemplos modernos de comedy of manners. Em França, a comédia inscrita no período da Restauração encontra o seu autor mais representativo na figura de Molière (1622-73), sobretudo em peças como Les Précieuses Ridicules (1658), L’Écoledes femmes (16663) e Le Misanthrope (1667), violentos retratos das hipocrisias sociais da França do século XVII.  No século XVIII, Goldsmith recuperou o género, com a publicação de Stoops to Conquer. Este género de comédia continua a ser cultivado no século XIX, por exemplo, por Oscar Wilde em Lady Windermere’s Fan (1893) ou The Importance of Being Ernest (1899). Neste século, podem entrar nesta categoria algumas comédias de Somerset Maugham e Bernard Shaw, Private Lives (1930) e Design for Living (1932), de Noël Coward, e Loot (1965) de Joe Orton.

Regra geral, a comedy of manners distingue-se da sátira por prever a glorificação de personagens sem escrúpulos, em vez de preparar metodicamente a condenação do carácter licencioso, artificial ou sofisticado que muitas vezes as caracteriza. O humor que resulta deste tipo de comédia é conseguido sobretudo através de uma elevada estilização dos diálogos, que podem recorrer ao repartee. As personagens nucleares são pretenciosas, sempre ambicionando chegar a determinados padrões sociais para os quais não estão vocacionadas. O enredo típico é o de amores desencontrados e escandalosos, servido por uma linguagem humorística. Os autores deste tipo de comédia são geralmente sofisticados e escrevem para a sua côterie de leitores e admiradores.

bibliografia

Arthur H. Scouten: “Recent Interpretations of Restoration Comedy of Manners”, in Du verbe au geste: Mélanges en l’honneur de Pierre Danchin (Nancy, 1986); John Wilkinson: “Conventions of Comedies of Manners and British Novels about Academic Life”, in Reading and Writing Women’s Lives: A Study of the Novel of Manners (1990); Nancy Lyn Tippetts: Sisterhood, Brotherhood, and Equality of the Sexes in the Restoration Comedies of Manners (1994); Pat Gill: Interpreting Ladies: Women, Wit, and Morality in the Restoration Comedy of Manners (1994).