Segundo a definição proposta por Henri Bergson: “Uma situação é sempre cómica quando pertence ao mesmo tempo a duas séries de acontecimentos absolutamente independentes, podendo interpretar-se alternadamente em dois sentidos completamente diferentes.” (O Riso: Ensaio sobre a Significação do Cómico, Relógio d’Água, Lisboa, 1991, pp. 65-66).
Gil Vicente utiliza este tipo de cómico no Auto da Índia, por exemplo, quando regressa o Marido da Ama adúltera, o que merece o seguinte reparo da Moça: “Quantas artes, quantas manhas, / que sabe fazer minha ama! / Um na rua, outro na cama!”. Na Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente dá-nos outro exemplo clássico: quando o ingénuo Pero Marques se senta de costas numa cadeira, tendo atrás de si a pretendente Inês e respectiva mãe, e diz trazer uma pera da sua pereira; quando pretende pô-las no chão, as peras desapareceram…
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