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Tipo de comédia que floresceu em Itália durante o Renascimento e que se baseava na imitação das comédias clássicas gregas e latinas pelos humanistas eruditos, especialmente as de Terêncio, Plauto e, por vezes, Séneca. Estas comédias de autores clássicos, cujos textos haviam sido conservados durante vários séculos nos arquivos dos mosteiros, são novamente trazidas à apreciação do público pelos sábios e doutos do século XVI.

As primeiras comédias, elaboradas pelos humanistas até meados do século XV ( é preciso não esquecer que foi em Itália que as tendências da Renascença se manifestaram mais cedo), são escritas em latim e constituem apenas um passatempo de jovens intelectuais e não de homens de teatro, cujas peças são representadas sobre palcos armados de propósito para o efeito, tendo em vista cada espectáculo e denotando grande cuidado artístico e elaboração cénica, em pátios ao ar livre ou nos salões da corte. Foi precisamente nas cortes italianas do século XVI onde vingou definitivamente o costume destas representações cómicas, com toda a pompa, elegância e intelectualidade que lhe eram características. Entre estas, Florença dos Médici, a Roma pontifícia, Milão, Mantua, Urbino e Ferrara, esta última tida como a cidade onde, mais do que as outras, se assistiu à renovação do teatro italiano, por intermédio do ressurgimento do teatro clássico. É precisamente deste local que provém aquele que é tido como o primeiro escritor de comédias modeladas entre as dos mestres antigos e o que mais desenvolveu este tipo de teatro, Ludovico Ariosto (1474-1533).

Denotando desde logo um maior interesse e um mais rápido desenvolvimento do que o teatro trágico, este tipo de teatro cómico submetia-se, assim, à rigidez dos modelos clássicos baseada na veneração humanista das obras antigas, segundo a qual, pensava-se, não poderiam existir obras mais perfeitas. São retomadas as teorias de Aristóteles que impõem ao teatro as normas da separação rigorosa dos géneros e aceites os esquemas impostos pela influência de Plauto e Terêncio, representados directamente no seu texto latino ou em versões mais ou menos leais.

Pensa-se que, ao romper com a inspiração popular medieval e reabilitando os modelos clássicos, durante algum tempo relegados para segundo plano, o teatro se afastou do povo, transformando-se apenas num divertimento da corte e da intelectualidade humanista, tal como aconteceu em Inglaterra durante o período Isabelino com os denominados University Wits. Todavia, desde o seu começo, este tipo de comédia foi-se libertando a pouco e pouco das amarras que o ligavam à imitação clássica.

Commedia Erudita, apesar de não ter dado origem a um teatro cómico verdadeiramente italiano e totalmente independente do teatro clássico, reveste-se de grande liberdade, o que irá proporcionar o desenvolvimento da originalidade italiana, que acabará por se expandir largamente. As construções clássicas são, assim, como simples ponto de partida para a construção desta comédia, à qual se acrescentam inúmeras alusões à vida de então e a inclusão de certos dados contemporâneos, o que a fazem aproximar no tempo e lhe conferem certo realismo. Elementos da comédia de intriga e da sátira de costumes inseridos sob a forma clássica , aliados a aventuras romanescas, incongruências nos enredos , nas situações e nos caracteres, intrigas engenhosas e artificiosas, tudo contribui para o entusiasmo em torno desta comédia , entusiasmo este que não é puramente cultural , mas que radica também na animação e vivacidade do espectáculo no seu todo e, em especial, na cenografia.

Algumas das características da commedia erudita irão mais tarde desenvolver-se na commedia dell´arte, da qual a commedia erudita apresenta já inúmeras características, nomeadamente em relação aos elementos populares.

Nascida entre os livros clássicos e os homens cultos do século XVI, a commedia erudita acabará por se aproximar cada vez mais do povo e das multidões, acabando por se identificar e relacionar directamente com as expressões teatrais populares que existiram por toda a Itália.

Os principais seguidores deste tipo de comédia foram Ludovico Ariosto, tal como foi anteriormente referido, com I Suppositi (1509), Niccólo Machiavelli, cuja, La Mandragola (1520) é tida como o maior exemplo desta forma teatral baseada na inspiração formal clássica, Pietro Aretino, Bernardo Dovizi, cuja obra Calandria deriva, em parte, do Dêcameron de Boccaccio e de Menaechmi de Plauto, Giovanni Maria Cecchi, Giovanbattista Della Porta e Anton Francesco Grazzini.

bibliografia

Gabriela Erasm: “The Commedia dell`arte and the Greek Comic Tradition”, in The Science of Buffoonery: Theory and History of The Commedia dell`arte (1989); Pamela D. Stewart: “Disguise and the Masks: From the Commedia to the Commedie dell`arte”, in The Science of Buffoonery: Theory and History of the commedia dell`arte (1989); Raymond Lepage: “Jean Rotron and the Tradition of the Commedia Erudita“, Kentucky Romance Quarterly, nº 22 (s.d.).