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Diz respeito aos processos mentais utilizados na escolha e organização da matéria do discurso. Sendo a linguagem e o pensamento indivisíveis, este é concretizado envolvendo a formulação linguística. Nesses processos mentais procuram-se pensamentos auxiliares para a melhor expressão de um pensamento inicial. O seu objectivo pode ser prolongar uma descrição ou relacionar e contrastar realidades ou fenómenos, semelhantes ou diferentes, para melhor evocar um deles. Por exemplo, Homero alarga a descrição de Telémaco e da sua beleza através da comparação com um deus, que acaba por se traduzir num símile: «o filho de Ulisses levantou-se do leito (…) e saiu do quarto, belo como um deus.» (Homero: Odisseia, C.III). No caso de a comparação ter como objectivo estabelecer analogias, poderá concretizar-se de várias formas e dar origem a figuras de formulação mais ou menos breve como, por exemplo, a metáfora ou o símile. Este último é, por vezes, confundido com a comparação, mas a concretização desta pode não implicar uma figura ou uma imagem, como acontece no exemplo que se segue: «não faltavam ao rapaz qualidades: era muito esperto, são e, como todos os Maias, valente » (Eça de Queiroz: Os Maias , Cap. I). No símile, há a aproximação de duas realidades na sua essência diferentes que têm algo de comum. No exemplo atrás apresentado, há comparação mas não um símile: o rapaz e os Maias são da mesma essência. Como já foi referido, a comparação pode também ser expressa numa metáfora. No exemplo «minha Joaninha, querido anjo adorado da minha alma» (Almeida Garrett: Viagens na Minha Terra, Cap. XLVI), Joaninha é implicitamente comparada a um anjo. As imagens criadas podem ainda ser de âmbito mais alargado, como no caso da alegoria ou da parábola. A comparação pode também ser feita de diferenças e contrastes, entrando, neste caso, no âmbito da antítese; podemos exemplificar com a comparação da Georgina de antes, com aquela de agora: «Georgina, que até ali parecia empenhar-se em se deixar eclipsar pela irmã, agora ausente ela, brilhava de toda a sua luz» (Almeida Garrett: Viagens na Minha Terra, Cap. XLVIII).

bibliografia

Anna Rizzo: “Similitudini e Comparazioni nell’Orlando furioso”, Rassegna della Letteratua Italiana, nº 94/3 (1990); Françoise Rullier Theuret: “L’Emploi des mots ‘compare’ et ‘comparant’ dans la description de la comparaison et de la metaphore”, Faits de Langues, 5 (1995); Fred van Besien: “Metaphor and Simile”, Interface, nº 4/2 (1990); Magdalena Popescu Marin: “Comparatia in poezia romansa culta”, Studi si Cercetari Lingvistice, 41 (Bucareste,1990); Michael Hoey: “The Importance of Comparison and Contrast in Narrative Organization”, Ilha do Desterro, 18:2 (Florianopólis, 1987).