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Operação pela qual se condensa a expressão, de modo oposto à ampliação ou expansão de texto. Tal operação está legislada desde a retórica antiga, que a prescreve como norma de ouro para obter um estilo ideal. Alguns procedimentos devem, portanto, serem respeitados: eliminar toda a redundância, preferir o assíndeto, evitar comentários pessoais ou proposições judicativas, fazer corresponder a cada frase uma única ideia, não fazer citações, etc.

De acordo com o testemunho de Sócrates e Fedro, os mestres de retórica Tísias e Górgias foram os primeiros a recomendar uma “medida justa” para os discursos, “nem muito concisos nem muito prolongados” (Fedro, 267b). No século VIII, Geoffroi de Vinsauf, na sua Poetria Nova, ensinou a contrair texto poético, por exemplo, reduzindo seis versos a dois e recomendando que toda a abreviação devia implicar uma redacção simplificada do que se tem a dizer. Durante a Idade Média, a escolástica procedeu a ínúmeras condensações de textos clássicos, muitas vezes como simples exercício escolar. Muitos autores não resistiam ao auto-elogio pelo êxito de tais condensações, como Simão Capra Aurea, que condensou a Eneida. Na poesia barroca de inspiração conceptista, prevalece a regra: “o bom, quando breve, é duplamente bom”. A concisão do discurso pode ser, portanto, uma das virtudes a obter com o processo de contracção de texto.

O resumo, a resenha, a recensão, a síntese, a sinopse, a epítome, a súmula e o sumário são os principais processos de contracção de texto. Dada a dificuldade de distinção destes vários processos, propomos as seguintes definições:

O resumo é exposição abreviada de uma sucessão de acontecimentos, das características gerais de alguma coisa, etc., tendente a favorecer a sua visão global. Resumir ou contrair um texto obedece a certas regras. Um esquema aceitável seria: 1. Segmentação – seleccionar as frases, expressões ou palavras mais importantes do texto, isto é, aquelas que contêm as ideias significativas, sem as quais o texto seria ilegível; 2. Agrupamento – analisar os segmentos de significado e agrupá-los por conjuntos que possuam uma lógica semântica entre si; 3. Hierarquização – fazer um plano esquemático com os segmentos de significado, hierarquizando-os e distinguindo as partes em que o texto eventualmente se divide.

As únicas diferenças entre resumo e sinopse dizem respeito ao local de ocorrência e à pessoa que os redige: o resumo aparece em publicação à parte e é redigido por outra pessoa que não o autor do trabalho resumido; a sinopse é uma visão de conjunto redigida pelo autor, ou por um redactor da revista ou livro periódico onde sai o trabalho, e é geralmente posta entre o título e o texto. Uma resenha ou recensão é um resumo crítico que obriga a apresentar juízos e comentários pessoais a par da descrição objectiva do texto recenseado.

O resumo é uma abreviação ou recapitulação em poucas palavras; neste sentido, é sinónimo de sumário, súmula e de epítome. O conceito de sumário aproxima-se mais do de síntese do que do de resumo em certos casos de extrema brevidade narrativa, por exemplo, quando falamos de um sumário de aula; o conceito de súmula funde-se completamente com o de resumo, servindo de exemplo as “sumas” que resumiam os longos tratados teológicos medievais; o conceito de epítome reserva-se quase em exclusivo para o resumo de livros, sobretudo didácticos.

O resumo e a síntese são dois processos de contracção textual que se aplicam sobretudo à prosa narrativa, e só nela se podem distinguir. A principal diferença entre a síntese e o resumo, do ponto de vista narrativo, é a de a primeira não se compor de elementos e o segundo ser uma composição de elementos-chave. O resumo tende também a ser mais longo, em relação ao texto original, do que a síntese, que deve limitar-se estritamente ao essencial e insubstituível. Um resumo pode ser inclusive uma composição de sínteses, mas uma síntese, porque deve ter esgotado todas as hipóteses de decomposição, não suporta qualquer ordem de factos resumidos que serão sempre susceptíveis de análise. Literalmente, a síntese é uma operação mental que procede do simples para o complexo, constituindo um todo, no qual não é possível reconhecer mais elementos analisáveis (neste sentido, tanto podemos falar da síntese de uma aula como de sínteses químicas). É a síntese que nos permite conhecer as leis gerais que regem tanto as combinações químicas, por exemplo, como as combinações possíveis dentro de um texto. O que aproxima o resumo da síntese é o facto de ambos consistirem num processo de contracção de texto por condensação e/ou omissão, no qual há-de existir uma coesão tal entre os elementos resumidos/sintetizados que não mais é possível substituir qualquer palavra ou frase-chave no texto contraído. Assim, podemos dizer que um livro bastante extenso (um código de leis, um dicionário ou uma obra de história em volumes, um longo romance, por exemplo) pode ser condensado numa edição resumida ou abreviada (num só volume), porque o objectivo de um resumo é o de reduzir consideravelmente o conteúdo do texto original, mantendo obrigatoriamente o seu esquema geral; por outro lado, se quisermos sintetizar um texto original nas suas ideias-chave, omitiremos as repetições e exemplificações e todos os aspectos que sejam secundários, porque o objectivo da síntese é o de operar no sentido de reduzir os pormenores a uma visão de conjunto. Por esta razão, a síntese é o oposto da análise. Como diz Fustel de Coulanges, na introdução à História das Instituições Políticas, “para um dia de síntese, são precisos anos de análise”. Este aforismo serve a natureza do título, uma forma última de síntese, que consiste, regra geral, numa ideia-chave que abrevia todo o conteúdo e/ou assunto do texto que serve. Podemos considerar exemplos clássicos de síntese narrativa a técnica que alguns romancistas utilizam no início de cada capítulo de um romance, variando entre uma simples frase ou expressão significativa até um conjunto de frases-chave que representam toda a história narrada. Encontramos exemplos para o primeiro tipo de síntese desde Alexandre Herculano, no Eurico, o Presbítero, cujos capítulos são intitulados: I. Os Visigodos; II. O Presbítero; III. O Poeta,… até à ficção actual de Alexandre Pinheiro Torres, por exemplo, em O Adeus às Virgens: 1. Os feitiços de Cecília; 2. O regresso das trevas?; 3. Máscaras e outros disfarces,… O segundo tipo de síntese narrativa (mais próximo do resumo, porque mais longo e descritivo) conhece o exemplo clássico das Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, que abre cada um dos capítulos do seu livro de viagens com um conjunto de segmentos narrativos fundamentais que, somados, constituem o plano esquemático do capítulo que introduzem: I: De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens. – Parte para Santarém. – Chega ao Terreiro do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede. – A Dedução Cronológica e a Baixa de Lisboa. – Lord Byron e um bom charuto. – Travam-se de razões os Ílhavos e os Bordas-d’-Água: os da calça larga levam a melhor. Num outro plano e com outras intenções, um escritor pode entender o exercício de síntese como um processo de remodelação ou depuração textual, como o fez Carlos de Oliveira com toda a sua obra. Por exemplo, em Turismo (1ª ed., 1942), o conjunto de poemas sob o título “Amazónia” tem originalmente 15 textos e um total de 252 versos, que, na versão final, Obras de Carlos de Oliveira (Caminho, 1992), são reduzidos a 5 textos e um total de 50 versos. O resumo tem um alcance diferente. Se considerarmos, por exemplo, o conto “Civilização”, de Eça de Queirós, e atendermos unicamente ao facto de ele constituir a génese da novela A Cidade e as Serras , devemos entender esse conto como um resumo desta novela. Aliás, a relação entre conto e romance ou novela traz sempre implícita a convicção de que o texto de um conto é possível de ser expandido a um texto de maiores dimensões, o que significa que também temos que reconhecer que o caminho inverso, que vai do romance ou da novela até ao conto, só se pode realizar pela técnica do resumo. O uso comum desta técnica tem muitas outras aplicações: um resumo escrito de uma telenovela televisiva, a que as revistas da especialidade dão semanalmente atenção, um resumo de um filme ou de uma peça de teatro em exibição, um resumo de um jogo de futebol, etc.

bibliografia

Andre Petroff: “Methodologie de la contraction de texte”, Langue Française,  26, (1975); D. Maldidier e Cl. Normand: “Passer d’un discours a l’autre: La contraction de texte”,  Langue Française, 53 (1982); Dany Hadjadj e Nicole Rousseau Payen: “La Contraction de texte: Selection de l’information”, Condenser: Cahiers du Groupe de Recherches sur la Condensation de l’Information en Langue Naturelle, 2 (Clermont, 1981); Michel Bellot Antony: “La Contraction de texte: Bibliographie commentée”, Condenser: Cahiers du Groupe de Recherches sur la Condensation de l’Information en Langue Naturelle,  1; 2 (Clermont, 1980; 1981); Regine Pouzet: “La contraction de texte: Typologie”, Condenser: Cahiers du Groupe de Recherches sur la  Condensation de l’Information en Langue Naturelle, 2 (Clermont, 1981).