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Expressão francesa (formada de um provérbio antigo: “C’est bien sauté du coq a l’asne”) que se aplica num contexto de desencontro premeditado de ideias, para obter um efeito de absurdo ou de incomunicação. J. Cohen, em A Estrutura da Linguagem Poética (1973, 2ªed., Dom Quixote, Lisboa, 1976, p.175), refere que o termo se aplica à “passagem de uma ideia à outra, sem qualquer relação com a primeira”, o que é válido para todo o tipo de discurso, inclusive para analisar dois enunciados incoerentes como: “Chove.” e “Dois e dois são quatro.”, porém, é próprio de certas formas de literatura do absurdo e de vanguarda explorar o efeito de choque que dois discursos sequenciais podem produzir, se não tiverem correspondência semântica entre si.

Por exemplo: “LE PROFESSEUR: — Comment dites-vous Italie, en français? L’ÉLÈVE: — J’ai mal aux dents!” (Ionesco, La Leçon, 1951).
O artifício do coq-à-l’âne exige instaurar uma relação de absurdidade entre dois enunciados, rompendo o fio do discurso. Também se utilizam jogos de palavras e trocadilhos para o produzir. Num monólogo, combina-se com o que Cohen chama inconsequência, ou seja, aquele “tipo de desvio que consiste em coordenar duas ideias que não têm, aparentemente, relação lógica entre si.” (ibid.,  p.180). O fenómeno é particularmente visível a partir da poesia romântica até às literaturas de vanguarda do século XX. É também utilizado em situações de comédia de situação, como As Lições do Tonecas, cujos diálogos são feitos à base de efeitos de inconsequências discursivas e semânticas.

bibliografia

H. Meylan: Epîtres du coq-à-l’âne (1956); Paul Zumthor: “Fatrasie et coq-à-l’âne”, in Mélanges offerts à R.Guiette (1961).