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Descrição pormenorizada de traços característicos de uma dada região ou do pitoresco de uma paisagem, ou descrição de particularidades dos costumes ou dialectos de certas comunidades. Os momentos de descrição conhecidos por cor local são em regra de importância secundária para o desenvolvimento da narração do principal tema de uma história. Contudo, a forma como certos escritores se envolvem na cor local descrita nas suas obras levou a processos curiosos de identificação desses escritores com as regiões que pintaram: Graciliano Ramos para o Nordeste brasileiro, Miguel Torga para Trás-os-Montes, Aquilino Ribeiro para as Beiras, Thomas Hardy para o Wessex, Dorsetshire, Mark Twain para o Mississipi, Émile Zola para o mundo miserável dos trabalhadores franceses no século XIX.

O facto de a cor local ter marcado as grandes narrativas de muitos escritores hoje tidos por clássicos, permite que hoje alguns escritores pós-modernistas, como Mário de Carvalho, ironizem sobre a insistência nesta técnica narrativa. Por exemplo, sobre uma opinião corrente a propósito da cor de Lisboa, opinião influenciada por um cineasta suíço que lhe chamara “cidade branca”, Mário de Carvalho discorre em tom de correcção didáctica: “Quanto à cor de Lisboa, de tons sempre variáveis com o fluir das estações e os caprichos dos sóis e das atmosferas, disponho-me a jurar e a declarar notarialmente que branca não é. Basta subir ao miradouro da Senhora do Monte, ali a S. Gens, ou ao terraço do Hotel Sheraton, ou àquele enorme edifício azul que fecha a Alameda D.Afonso Henriques nos altos da Barão de Sabrosa, ou mesmo ao humilde convés dum cacilheiro, para poder verificar que a cidade, descontando o grená rugoso dos telhados, varia entre os rosas-suaves, os verdes-esbatidos, os amarelos-doces, em milhentas tonalidades que não fazem mal à vista. Lá terá as suas brancuras aqui e além, mas estão preciosamente colocadas, para compor o todo. Mas isto de gostos e de cores, parece que não é para discutir. Já foi, mas agora não é outra vez.” (Era Bom Que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto, 1995, Caminho, Lisboa, p.17).