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Teoria inspirada no diálogo de Platão Crátilo, onde se discute a natureza dos nomes, que se assume não ser de ordem convencional, mas de acordo com a existência das coisas em si. No texto platónico, parodia-se o método etimológico de Crátilo, pensador de inspiração heraclitiana, que afirma que “cada coisa tem por natureza um nome apropriado, e que não se trata da denominação que alguns homens convencionaram dar-lhes” (Crátilo., 383a), o que concorda na teoria naturalista dos nomes, segundo a qual as palavras têm um sentido certo e sempre o mesmo. Pelo contrário, Hermógenes, discípulo de Sócrates, sustenta que os nomes das coisas são estabelecidos por convenção humana. Essa questão tomou em geral o nome da controvérsia physis-nomos ou physis-thesis. Sócrates começa por criticar a posição de Hermógenes, pois de outra forma não seria possível o conhecimento através da linguagem: se assim fosse, fundávamos um sistema de comunicação linguística totalmente arbitrário. Neste caso, os sofistas teriam razão quando afirmam que basta falar para dizer a verdade. Para Platão, a ordem fundamental do Mundo impõe um limite à arbitrariedade da linguagem, que só se manifesta no que a linguística moderna chama significante do signo linguístico. Não faz sentido que a linguagem possa ser separada do Mundo a que pertence e onde é reconhecida como tal; estando intimamente ligada ao Mundo e porque constitui uma techne, a linguagem pode actuar sobre ele.

Na parte central do diálogo, Sócrates demonstra a falência do cratilismo, através da aplicação desse método a cerca de 140 nomes, ficando provado que a etimologia não passa de um artifício humano. A incongruência deste método pode ver-se no facto de um mesmo nome nos poder conduzir a duas ideias diferentes entre si, como no caso de episteme (saber, conhecimento), que tanto indicia movimento como repouso. Estas duas significações podem existir em comunhão num mesmo ser mas nunca entre si, o que as anularia. É, portanto, na estabilidade do significado das coisas que Platão funda a sua teoria do conhecimento. (Tese diferente defendeu Heráclito, pois a unidade dos opostos é precisamente aquilo que nos dá a prova de que os nomes existem “por natureza”, posição devidamente criticada por Platão em Crátilo, 411b-c.)

Para Platão, um objecto será bem nomeado se todos os traços essenciais estiverem presentes no nome. Se nos nomes existem letras dissemelhantes que nos levam a outros sentidos, é necessário estabelecer uma determinada convenção que completa a relação parcialmente natural com a coisa nomeada. Platão conclui que não é por meio dos seus nomes que devemos procurar, conhecer ou estudar as coisas, mas, de preferência, por meio delas mesmas, uma vez que o conhecimento directo da própria coisa é anterior e superior aos seus nomes.

As teorias gregas sobre a linguagem podem tomar um de dois partidos: o nome diz a verdade (Heráclito e as primeiras tragédias); um nome nada mais é do que um nome (Parménides, Demócrito e sofistas), identificando-se linguagem, opinião e verdade. Para Platão, o discurso é de “natureza híbrida, verdadeira e falsa ao mesmo tempo” (Crátilo, 408c) como Pã; “o que nele há de verdadeiro é macio e divino e reside no alto com os deuses, por outro lado, o que há de falso mora em baixo, com a multidão dos homens”. Em suma, os nomes são simultaneamente por natureza e por convenção.

bibliografia

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http://www.humanas.ufpr.br/delin/classic/artigos/heracl.htm